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OPINIÃO | In memoriam Manuel Carvalho, por Daniel Bastos

Manuel Carvalho (1946-2023)
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No decurso do mês passado, fomos surpreendidos com a triste notícia do falecimento do ativista cultural e escritor luso-canadiano Manuel Carvalho (1946-2023), uma das figuras mais gradas comunidade portuguesa em Montreal.

Ao longo das últimas décadas, o ativista cultural e escritor manteve um olhar atento sobre a realidade da comunidade luso-canadiana nesta região marcada historicamente pela tradição e cultura francesa, onde o número total de portugueses e lusodescendentes deverá ser superior a 60.000 pessoas.

Manuel Carvalho nasceu em Cicouro, um povoado situado no extremo norte do concelho de Miranda do Douro, confinante com o território espanhol. Depois de viver grande parte da juventude nos Outeiros da Gândara dos Olivais, nos arredores de Leiria, período em que se iniciou nas letras através da imprensa local, participou na Guerra do Ultramar em Angola, tendo emigrado para Montreal no alvorecer dos anos 80, onde exerceu a função de designer industrial.

Desde então, promoveu entre 1983 e 1985, os Jogos Florais Luso-Canadianos, e foi responsável na segunda maior cidade do Canadá pela organização de bibliotecas, concursos, coletâneas literárias e festas culturais direcionadas para a comunidade portuguesa. Com uma vasta colaboração literária espalhada por diversos jornais e revistas no seio das comunidades portuguesas este genuíno cultor das artes e letras foi coordenador da revista on-line “Satúrnia – Letras e Estudos Luso-Canadianos”, ajudando a divulgar e promover dezenas de autores.

Em 2021, Manuel Carvalho lançou o livro Horizontes, com chancela da Escritório Editora e capa da pintora Maria João Sousa (Majão), sua companheira e também ela emigrante no Canadá. O livro, dedicado aos portugueses de Montreal, reúne várias crónicas que o escritor mirandês redigiu ao longo dos últimos anos nas páginas da imprensa luso-canadiana, e que espelham singularmente a mundividência da comunidade lusa na região do Quebeque.

Como salienta Onésimo Teotónio Almeida, professor catedrático no Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros da Brown University, nos Estados Unidos, que assina o prefácio da obra: “Há décadas que venho lendo com prazer a escrita de Manuel Carvalho. Narrativas curtas, incisivas, feita de traços fortes e certeiros que, numa penada, economicamente desenham personagens e situações, esboçam cenas vivas, prenhes de humanidade, colocando o leitor por dentro de momentos fortes da experiência emigrante portuguesa no Canadá francês – mais precisamente Montreal – mas que poderiam se de qualquer canto da diáspora portuguesa – Newark, Paris, Dusseldorf, Londres, Johannesburg ou Sydney. Tudo narrado num português tão puro como o melhor tinto do Douro”.

A dedicação de uma vida à defesa da cultura e do associativismo luso-canadiano em Montreal, assim como o profundo apego às raízes do saudoso escritor Manuel Carvalho, invoca-nos o sentimento lapidar do filósofo e ensaísta espanhol Miguel de Unamuno: “Quando morrer alguém que nos sonha, morre uma parte de nós”.

Mauricio De Jesus
Maurício de Jesus é o Diretor de Programação da Rádio Ilhéu, sediada na Ilha de São Jorge. É também autor da rubrica 'Cronicas da Ilha e de Um Ilhéu' que é emitida em rádios locais, regionais e da diáspora desde 2015.