OPINIÃO

OPINIÃO | Diretos no Carnaval: Um direito de todos, por Liduíno Borba

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Depois da pandemia, o Carnaval voltou em força. É a força de um povo que se sabe divertir e conservar as suas tradições culturais.

Já alguns anos que se vem levantando a questão, pelo Carnaval, da transmissão em direto e da gravação das atuações dos grupos carnavalescos.

Neste ano de 2023 a questão foi levantada com mais força, despertando um coro de pessoas a favor e outro contra. É saudável essa discussão, mas sem provocações.

Estas minhas palavras são para manifestar a minha opinião: sou a favor das transmissões em direto.

Definições:

Grupo carnavalesco: dança de espada, dança de pandeiro, bailhinho ou comédia;

Salão: lugar onde o Grupo atua (incluindo o Teatro Angrense);

Vamos às origens do nosso Carnaval para termos um enquadramento do que está em discussão.

É, talvez, o único espetáculo que o artista paga para atuar, ou mostrar o seu “trabalho”, e o povo gosta e agradece, já que, em regra, costuma aplaudir as exibições que lhe são dirigidas, mesmo algumas menos conseguidas.

O artista paga a sua roupa e colabora no pagamento do enredo e cantigas que fazem parte do Grupo carnavalesco.

Os autores das cantigas e do enredo, em regra, são pagos pelo seu trabalho, não se levantando a questão de direitos de autor, porque foram compensados por isso.

Tem havido alguns grupos carnavalescos que têm impedido a gravação da sua atuação, como forma de reservar para si esses direitos e comercializá-los. Esta posição vai contra todo o espírito do Carnaval de oferecer ao povo, gratuitamente, a sua atuação.

Aqui entram os video-amadores que, em minha opinião, tem feito um trabalho meritório de arquivo histórico inesquecível. Sem eles que gravações tínhamos? Há alguns projetos que começaram em video-amador e hoje são projetos profissionais bem sucedidos, como é o caso da VITEC.

A tecnologia evoluiu e, hoje, a transmissão em direto é relativamente simples de fazer, para todo o mundo, através da Internet. É um direito à informação que toda a pessoa tem. Os que não podem ir aos salões, e as nossas comunidades emigradas, têm o direito, também, de verem o Carnaval em direto e na hora. Não se pode travar por muito tempo o desenvolvimento natural das coisas.

A maioria dos Salões preparam-se com ementas adequadas, incluindo as saborosas bifanas, e bebidas, como forma de angariar fundos para a sua cada vez mais difícil manutenção.

Eu sei que os defensores da não transmissão em direto alegam a defesa dos salões. Tem alguma razão, mas não podem, eternamente, atrasar a evolução dos tempos. O que faziam com os Clubes de Vídeo quando acabaram com as salas de cinema? Querem obrigar a ir comprar 1 quilo de açúcar à mercearia da freguesia em vez de comprar no Hiper?

É verdade que as transmissões em direto não trazem mais gente aos salões, mas, nesta data não é ainda um grande problema. Os salões continuam com boa assistência. Prova disso está a procura dos bilhetes para o Teatro Angrense, que esgotaram em pouco mais de 30 minutos.

Acho que cada salão deve definir as suas regras de funcionamento: transmissão em direto ou não; gravação ou não. O Grupo carnavalesco deve respeitar as regras do Salão e se não quiser atuar vai-se embora… Não é o Grupo que impõe as regras ao Salão mas o contrário.

Esta é a minha opinião. Respeito outras. Não vou entrar em discussões provocatórias.

Para o ano há mais Carnaval e que seja em direto para todos.

Califórnia, 25 de fevereiro de 2023.

Mauricio De Jesus
Maurício de Jesus é o Diretor de Programação da Rádio Ilhéu, sediada na Ilha de São Jorge. É também autor da rubrica 'Cronicas da Ilha e de Um Ilhéu' que é emitida em rádios locais, regionais e da diáspora desde 2015.