Será inaugurada no dia 30 de Setembro, às 18h00, a exposição “Entropia Solar”, de Vítor Teves, no Museu Municipal da Ribeira Grande.
“Não linearidade”. “Acumulação”. “Transversalidade”. “Desordem”. “Texto”. Estas bem podem ser algumas das palavras que podemos associar ao trabalho de Vítor Teves. Em todos os trabalhos que tem feito, quer enquanto curador, poeta e artista, podemos encontrar esta aparente “entropia”, ou seja, desordem, uma desordem em excesso e propositada que apresenta uma coerência interna.
Nesta exposição, o artista inspira-se directamente numa das músicas do compositor islandês Ben Frost (n.1980), mais concretamente na música ‘Entropy in blue’, retirada do álbum “The Center Cannot Hold”, de 2017, um marco na mais recente história da música, segundo Vítor Teves. Simultaneamente, o artista recupera as palavras do actual Secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, que afirmou, a 27 de Julho de 2023, que a era do aquecimento global deu já lugar à da “ebulição global”. Assim se compreende o sentido global do título desta exposição: “Entropia Solar”.
Esta desordem para a qual o artista chama a atenção é uma desordem presente no espaço da sala do museu e, simultaneamente, uma desordem social futura. “O sol”, afirma o artista, “será cada vez mais a grande presença das nossas vidas, uma presença insuportável que jamais poderemos ignorar”. É a partir da presença central do Sol no futuro da Humanidade que o artista, também poeta, recupera a perdida centralidade histórica do Sol no Egipto de Akhenaton — o primeiro faraó monoteísta e criador da cidade antiga de Amarna, lugar do grande templo do deus Áton, representado sempre como um disco solar.
Ao mesmo tempo, esta exposição “Entropia Solar” adquire um outro e mais intenso significado, pois ela coincide com o anúncio do próximo livro de poesia
de Vítor Teves, uma antologia que reúne 110 poemas de dez livros criados entre 2008 e 2023: “Amarna — Odes Altermodernas”, com prefácio de Paulo Rodrigues Ferreira, escritor e professor de Língua e Literatura Lusófona na Universidade da Carolina do Norte-Chapel Hill, nos Estados Unidos, — livro esse que traz, simultaneamente, no subtítulo, um piscar de olhos a Antero de Quental.
Nesta exposição de Vítor Teves, a segunda deste ano, os visitantes poderão ver obras figurativas, abstractas e conceptuais, assim, como esculturas de papel e alguns poemas. Cada obra ramifica outra, e, por vezes, outros autores. Ao contrário do que tem sido comum, o artista distribui pequenos fragmentos/imagens (“átomos”, diz o artista) pelo espaço da galeria, — indícios daquilo que originou a obra do artista ou as suas semelhanças visuais possíveis
e conceptuais.
A presença desses “átomos no espaço” dentro da galeria traz, ao papel do artista, uma dupla sobreposição: o papel de poeta e de historiador de arte. Há nessa atitude de “exposição secundária” a necessidade de apresentar as géneses das obras e facilitar o enquadramento das peças criadas pelo artista no contexto da História da Arte. “Explicar ao espectador” é uma das principais preocupações do artista, uma consciência de que no espaço da cidade, da ilha, do Arquipélago há ainda toda uma sensibilização a fazer para com a arte moderna e contemporânea. A exposição espelha essa tripla essência: a de artista, poeta e historiador de arte, e poderá ser apreciada até 7 de Dezembro de 2023.
Vítor Teves nasceu em 1983, em Ponta Delgada, mas viveu sempre na Ribeira Grande. É Licenciado em História da Arte pela Universidade do Porto e Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes com a dissertação: “Transversalidades: A Propósito de Invisíveis Correntes de João Miguel Fernandes Jorge”.
É poeta, curador, crítico de arte e artista plástico. Na qualidade de curador, destaque para a exposição no Museu Carlos Machado em Ponta Delgada – “A (im)possibilidade de uma ilha”, em 2020, onde reuniu cerca de 20 artistas e escritores açorianos.
A título individual, expôs “Articulações e Outros Cortes”, na Casa da Cultura Carlos César, cidade da Lagoa (2023) e “Descobrir o Lápis” no Posto de Turismo da Ribeira Grande (2001). Já em exposições colectivas, esteve presente em “Pares — Mostra de projetos apoiados pelo programa Pares entre 2019 e 2021”, no Parque Atlântico (2022); e “Pequenos Formatos”, na Galeria Monumental, em Lisboa, nos anos 2021 e 2020.
Como poeta escreveu “Ócritus e As Coisas Importantes” (2022), “Ninurta seguido de Apêndice Branca” (2021), “Arpoeiro”, vencedor do Prémio do Festival MiratecArts (2020), “Lamarim” (2019), “Cabra Bem Cabra” (2018, com heterónimo Barba Stronger) e “Dentes tortos” (2017).
Participou também nas antologias “Into The Azorian Sea — Bilingual Anthology of Azorean Poetry”, com organização de Diniz Borges (2023), “Antologia 100 anos, 100 poetas — da Universidade do Porto”, com organização de Isabel Morujão, “A Terceira Margem — Antologia Luso-Brasileira” e “Caderno #5 —
Os pastéis ali não valem uma beata”, ambos editados pela Enfermaria 6.
Vítor Teves tem ainda textos publicados nas revistas “Enfermaria 6”, “Bacana”, “Gazeta de Poesia Inédita”, “Revista Atlântida” e “Revista Grotta #5”.