O Papa criticou ontem o que qualificou como instrumentalização da morte de Bento XVI, seu antecessor, reafirmando o clima de confiança e entendimento entre os dois.
“Pude falar de tudo com o Papa Bento XVI, mudar minha opinião. Ele estava sempre ao meu lado, apoiando-me e se, tivesse alguma dificuldade, dizia-me e falávamos. Não havia problemas”, declarou aos jornalistas, no voo de regresso a Roma, após uma viagem de seis dias a África.
O Papa emérito, que renunciou ao pontificado em fevereiro de 2013, faleceu a 31 de dezembro de 2022, aos 95 anos de idade.
Após a morte de Bento XVI, várias pessoas ligadas ao falecido pontífice falaram de um alegado desconforto relativamente a decisões do seu sucessor, em particular relativamente à doutrina sobre as pessoas homossexuais.
“Uma vez falei sobre o matrimónio das pessoas homossexuais, sobre o facto de que o matrimónio é um sacramento e que nós não podemos fazer um sacramento, mas que existe a possibilidade de garantir os bens através da lei civil, que começou na França… qualquer pessoa pode fazer uma união civil, não necessariamente de casal. Idosas reformadas, por exemplo, porque é possível ganhar muitas coisas”, relatou.
Perante esta posição, “uma pessoa que se acha um grande teólogo, através de um amigo do Papa Bento XVI, foi ter com ele e fez queixa”.
“Bento não se assustou, chamou quatro cardeais teólogos de primeiro nível e disse: ‘expliquem-me isso’. E eles explicaram, foi assim que a história terminou. É uma pequena estória, para verem como Bento agia quando havia uma denúncia”, acrescentou.
Francisco rejeitou as alegações de que Bento XVI estaria “amargurado” relativamente ao novo Papa, falando em “histórias de ‘telefone estragada’” (frases que são transmitidas sucessivamente, de pessoa em pessoa, até se corromper a sua afirmação original”.
“Mais, consultei Bento XVI sobre algumas decisões a serem tomadas e ele estava de acordo. Ele estava de acordo. Acredito que a morte de Bento tenha sido instrumentalizada por pessoas que querem levar água aos próprio moinho”, denunciou.
Aqueles que instrumentalizam uma pessoa tão boa, tão de Deus, quase diria um santo padre da Igreja, diria que são pessoas sem ética, que são pessoas de partido, não de Igreja”.
O Papa admitiu que existe uma tendência generalizada de “transformar posições teológicas em partidos”.
“Estas coisas cairão sozinhas, ou se não caírem, seguirão em frente, como aconteceu tantas vezes na história da Igreja. Quis dizer claramente quem era o Papa Bento XVI, ele não era uma pessoa amargurada”, concluiu.
AE/RÁDIOILHÉU