A “Azores-Diaspora Media Alliance”, que nasceu formalmente em 2022, pode ser um ponto de viragem nas relações bilaterais entre os órgãos de informação dos Açores e da Diáspora.
E, considerando a importância dominante da comunicação contemporânea, pode ser o momento fundacional de um tempo novo no mútuo conhecimento da realidade açoriana nas nossas ilhas e nas nossas comunidades.
De entre outras potencialidades decorrentes da implementação deste acordo, destaca-se a possibilidade de partilha de conteúdos de imprensa, rádio e televisão entre órgãos de informação dos dois lados do Atlântico.
Ficam assim criadas as condições para que se conheça melhor nos Açores a realidade atual da diáspora açoriana e, ao contrário, para que as nossas comunidades acompanhem, sempre e cada vez mais, a atualidade informativa das suas ilhas de identidade materna e de referência permanente.
Foi detetada a necessidade, foi manifestada a vontade, foi criada a oportunidade, está concretizada a capacidade.
Agora, esta plataforma pioneira de entendimento e cooperação, tanto pode ser uma ilusão efémera, como uma duradoura realidade, concreta e consequente.
Aos órgãos de comunicação que asseguraram a sua fundação e aos órgãos de comunicação que se associarem à sua evolução, caberá determinar a utilidade, a operacionalidade e a perenidade desta boa intenção.
Trata-se aqui de um imperativo histórico.
Por causa da comunicação social e por causa da diáspora açoriana.
No outro lado do Atlântico, considerando tão somente as comunidades portuguesas dos Estados Unidos, maioritariamente açorianas, é antiga e importante a presença e a missão da comunicação social, para manter e afirmar a marca distintiva da nossa identidade.
Remonta ao século XIX o histórico legado da imprensa luso-americana, com A Voz Portuguesa fundada na Califórnia em 1870 ou o Jornal de Notícias editado na Pensilvânia em 1877.
De entre os títulos ainda em publicação destacam-se o Luso-Americano, com 95 anos em Newark, New Jersey; o Portuguese Times, com 52 anos em New Bedford, e O Jornal, com 48 anos em Fall River, ambos em Massachussets; ou ainda o Tribuna Portuguesa, com 44 anos em Modesto, Califórnia.
Sem esquecer as indispensáveis presenças de rádio e televisão que preservam a língua portuguesa e afirmam a cultura açoriana, de costa a costa, na grande nação americana.
Portanto, a par do novo paradigma das redes sociais, a comunicação social tem e mantém uma importância estruturante para a boa “Açorianidade” de Nemésio nas duas margens do “Rio Atlântico” de Onésimo.
Nem podia ser de outra forma.
Segundo os censos norte-americanos do ano 2000, com as estimativas subsequentes, residem oficialmente nos Estados Unidos cerca de 1 milhão e 370 mil portugueses e lusodescendentes.
Destes, 160.000 ainda vieram de Portugal, mas 1 milhão e 100 mil já nasceram nos Estados Unidos – o que suscita uma reflexão pertinente sobre novos conteúdos mediáticos para as novas gerações contemporâneas.
A Califórnia é o Estado com maior presença portuguesa, totalizando oficialmente mais de 330.000 emigrantes, maioritariamente provenientes do Arquipélago dos Açores e, especialmente, das cinco ilhas do grupo central.
No Estado de Massachusetts, a população portuguesa oficialmente registada era de 280.000 emigrantes, também sobretudo de origem açoriana, mas aqui especialmente provenientes das duas ilhas do grupo oriental.
Também na Nova Inglaterra, o mais pequeno dos estados norte-americanos, Rhode Island, regista uma presença portuguesa proporcionalmente significativa, com cerca de 90.000 emigrantes registados, maioritariamente da ilha de São Miguel.
Portanto, só nestes três estados, estamos a falar de um número potencial de emigrantes açorianos e açordescendentes que é três vezes superior à atual população dos Açores.
Ora, isso justifica todos os esforços que possamos fazer – poderes públicos e entidades privadas – para aproximar os Açores e os Estados Unidos, cada vez mais, afirmando a identidade açoriana no lado de cá e aproveitando o potencial americano no lado de lá.
Por isso e para isso, é imperativo que se conheça nas ilhas, cada vez mais e melhor, a dimensão e o dinamismo da diáspora açoriana da América Norte, ao mesmo tempo que importa atualizar e intensificar o conhecimento exterior dos novos Açores.
Nos Açores, quanto mais conhecidas forem as nossas comunidades, mais estimada, considerada e respeitada será a nossa diáspora – como, aliás, bem merece.
E então alguns compreenderão melhor que ir às comunidades não é uma opção ou um passeio. É uma obrigação e um investimento.
Um investimento cultural, social e económico, que acrescenta valor aos Açores.
A comunicação social é fundamental para essa consciência.
E a cooperação mediática é determinante para essa aproximação.
José Andrade, Diretor Regional das Comunidades no Governo da Região Autónoma dos Açores, Baseado num texto do seu livro Transatlântico – As Migrações nos Açores (2023)