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OPINIÃO | Cruzamento Estratégico: O Papel Geopolítico dos Açores e da sua Diáspora num Mundo Globalizado, por Diniz Borges

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Não é novo, inscreva-se sobre a importância geoestratégica dos Açores.  Vários especialistas na matéria têm-no feito.  Nem tão pouco é novo andarmos, como alguns de nós o temos feito, incessantemente, a dar destaque à Diáspora e a chamar a atenção ao potencial que a mesma pode ter para a Região.  Uma potencialidade que vai muito além da festa nas nossas comunidades, com ou sem entidades políticas, ou da presença de emigrantes, e alguns dos seus descendentes, nos arraiais das festas das nossas freguesias ou dos nossos municípios.   Quer a importância geoestratégica dos Açores, quer o papel que a nossa Diáspora pode e deve desempenhar como lóbi vivo e ativo nos Estados Unidos e no Canadá, são assuntos que merecem mais atenção, mais debate, mais diálogo, em ambos os lados do Atlântico e no caso americano e canadiano, chegando ao pacífico, até às ilhas do Havai.  A Diáspora precisa dos Açores, de um novo projeto açoriano que vá além do chamado “mercado da saudade”, e os Açores precisam da Diáspora, também com um novo projeto que não fique preso à efemeridade da festividade, independentemente de quantas pessoas lá estejam.  As potencialidades existem, todos o sabemos, e é urgente que se dê os passos necessários.  

Na bonita ilha de Santa Maria, ali perto do sítio onde Colombo passou no seu regresso ao “velho continente”, foi lançado o livro The Azores, The Atlantic, and the Global Challenges: Geopolitics and Diaspora. Um trabalho de equipa (Dulce Maria Scott, Ana Mónica Fonseca, António Monteiro e Diniz Borges) com alguns dos textos, apresentados no Fórum da Associação LPAZ, que todos os anos reúne estudiosos (e curiosos como eu) de várias disciplinas e de várias latitudes.  Foi um projeto da Bruma Publications do instituto PBBI da Universidade do Estado da Califórnia em Fresno, com as edições Letras Lavadas, editora que orgulha os Açores e a Diáspora.  Mais do que uma simples apresentação de um livro, foi um momento de reflexão sobre este fórum, sobre os temas que o mesmo tem abordado e sobre a Diáspora e a necessidade de a olharmos com outros olhos, de não continuarmos a subestimar a sua capacidade no mundo onde estamos, e na ligação com a terra de origem, ou de origem dos nossos pais ou avós.  Uma ligação que não pode ficar pela chamarrita e as malassadas, apesar de todos nos gostarmos de um pé de dança e de um docinho das nossas ilhas.  Uma ligação que enfrente as nossas realidades e olhe além do óbvio, além do que está mesmo à nossa frente ou ao nosso lado, além dos processos e projetos que já não têm cabimento na Diáspora que poderia e deveria ser uma mais-valia para a Região.  

O livro apresentado em Santa Maria contém uma amálgama de textos, com os quais podemos aprender e dialogar.  Apesar da variedade dos temas, há uma conjugação de ideias que se baseiam nos desafios da modernidade e como os Açores se podem e devem posicionar para enfrentarem esses impulsos, na Região e na Diáspora.  Começando com um prefácio de Carlos Amaral, no qual disserta sobre a relevância dos Açores ao longo da sua história como um arquipélago geoestratégico com uma missão global, o nosso relacionamento especial, com os Estados Unidos e o Canadá, e a relevância da nossa Diáspora na construção dos Açores que ofereçam mais oportunidades a quem vive no arquipélago.  A nossa ligação ao mundo tem de ser uma ligação que inclua a totalidade do arquipélago, as variadíssimas componentes que nos definem como povo, os vínculos que temos com vários países, particularmente os Estados Unidos e o Canadá, por motivos da nossa emigração açoriana – agora uma diáspora viva e criativa, demasiadas vezes sem a Região o saber, ou até se interessar.  Não tenhamos receio de enfrentarmos os snobismos de alguns poderes políticos nacionais, e de em voz bem alta, afirmarmos a nossa identidade, a nossa visão e o valor que a nossa geografia e a nossa diáspora têm no continente norte-americano.  Se alguém ainda pensa (e há, infelizmente quem o pense) que os poderes americanos (e diria também canadianos) olhariam para Portugal com os mesmos olhos sem os Açores, está, como é mais do que percetível, a viver na redoma em que se colocam muitos poderes, quer políticos, quer diplomáticos, quer académicos. 

Com os contributos importantíssimos de Tomé Ribeiro Gomes, Licínia Simão, António Gonçalves Alexandre, Ana Maria Cordeiro de Azevedo, Nuno Santos Lopes, Marisa Filipe, Dulce Maria Scott, Andrea Vacha, Edgardo A. Medeiros da Silva, este livro traz-nos uma amálgama de informações sobre os Açores e a Diáspora de ontem e de hoje, incluindo uma listagem de atividades e caminhos que deveríamos contemplar para tornar a Diáspora mais relevante e com outro nível de contributos para a Região.  Não esquecendo o desenvolvimento de uma nova política para a Diáspora que não pode ficar pelas reinvenções do passado.  Neste conjunto de estudos e textos verifica-se, sem muito esforço, pela qualidade dos mesmos, a importância geoestratégica dos Açores, não apenas no passado longínquo e no mais recente, mas sobretudo na atualidade, num mundo cada vez mais desafiante e exigente.  Num mundo onde mais cedo ou mais tarde (e espero que seja mais cedo) iremos aprender que as ligações transacionais não podem ficar nas mãos das companhias pluricontinentais, nos gabinetes de políticos ou diplomatas oportunistas com assessores que zelam pelas suas carreiras em detrimento da construção do bem-estar do cidadão. Nem tão pouco nos claustros de académicos com visões ligadas a um mundo do ensino e da investigação que tem avançado a passos largos, e deve ser, cada vez mais, um espaço de encontro com a sociedade em geral.  

Com uma introdução que nos dá uma síntese histórica da nossa importância geoestratégica no Atlântico Norte, e da construção (sempre constante) da nossa Diáspora, e um magnífico texto de António Monteiro no fim do livro sobre o historial da Associação e o fórum LPAZ, este é, indubitavelmente, um livro para ser lido em várias latitudes e por vários públicos.  Ao longo das suas 230 páginas poderão verificar uma profusão de estudos sobre a realidade açoriana num contexto global e os desafios que temos enfrentado e que nos esperam.  A importância dos Açores para a República Portuguesa, e a presença de Portugal no Atlântico.  Não tenhamos dúvidas, a dimensão atlântica de Portugal está nos seus arquipélagos dos Açores e da Madeira e o nosso “relacionamento especial” com os Estados Unidos, como já ouvi da boca de inúmeros políticos, a qual está fortemente alicerçada nos Açores e na nossa Diáspora em terras americanas. Tal como o afirma Carlos Amaral no prefácio: “A história ensina-nos que o destino dos Açores está intimamente ligado aos serviços que as ilhas são capazes de prestar ao sistema internacional, nomeadamente à relação transatlântica. E séculos de emigração para o Novo Mundo, para o Brasil, para os Estados Unidos e para o Canadá, dotam a Região de importantes comunidades que, espalhadas por quase todos os sectores da vida, constituem preciosos catalisadores para o pleno cumprimento dessa tarefa.”

  Tal como disse Dulce Scott na apresentação: “Ao explorar estes

capítulos, o livro convida-o a mergulhar na meândrica teia da história, geopolítica e de identidade cultural que os Açores consubstanciam. Cada capítulo, embora distinto, contribui para o próximo capítulo, para uma narrativa mais alargada que realça a importância internacional dos Açores. Quer sejam vistos através da lente da segurança, da identidade cultural ou da memória histórica, este livro ilumina o papel multifacetado dos Açores como uma ponte entre continentes e uma parte vital do nosso património atlântico comum…Este livro oferece um mergulho profundo no passado, presente e futuro dos Açores e nas suas e as suas ligações ao mundo Atlântico. É um recurso oportuno e valioso para qualquer pessoa interessada em compreender as forças geopolíticas, culturais e históricas que moldam esta região única. Espero que o considere tão perspicaz e estimulante como nós.” 

Foi um projeto interessante.  Gostei muito de trabalhar com estes colegas e amigos.  Acima de tudo senti, em cada fase deste projeto o compromisso que todos têm com o arquipélago, abraçando as disciplinas mais variadas, que no seu conjunto são imperativas para quem acredita nos Açores além dos interesses particulares e da efemeridade da política partidária.  Ouço demasiadas vezes, aqui na Diáspora o orgulho açoriano, o orgulho português.  Seria muito bom que esse dito “orgulho” se transformasse num verdadeiro esforço coletivo, a nível global, para bem dos Açores.   

Mauricio De Jesus
Maurício de Jesus é o Diretor de Programação da Rádio Ilhéu, sediada na Ilha de São Jorge. É também autor da rubrica 'Cronicas da Ilha e de Um Ilhéu' que é emitida em rádios locais, regionais e da diáspora desde 2015.