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ONU | Situação económica mundial incerta e sombria

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Prevê-se que a desaceleração da economia mundial caia de 3%, em 2022, para 1,9%, em 2023. Para este cenário contribuíram fatores como a covid-19, a guerra na Ucrânia, a crise alimentar e energética, a inflação, o aumento da dívida e também as alterações climáticas. 

De acordo com o Relatório das Nações Unidas sobre a Situação Económica Mundial e Perspetivas Futuras (WESP) 2023, o panorama económico mundial de curto prazo é incerto e sombrio. Apesar de se prever um aumento moderado para 2,7% para 2024, tudo dependerá das medidas orçamentais que os governos decidirem implementar e das consequências da guerra. 

Estas perspetivas não só afetam a recuperação económica mundial pós-covid, mas também a concretização dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) – cuja implementação marca em setembro o ponto médio da Agenda 2030.  

Neste sentido, António Guterres, secretário-geral da ONU salientou que “este não é o momento para pensar a curto prazo ou para uma austeridade fiscal irrefletida que agrava desigualdade, aumenta o sofrimento e pode colocar os ODS mais longe do seu alcance. Estes tempos sem precedentes exigem uma ação sem precedentes”. 

Portugal

As perspetivas apontam para que o Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal cresça 0,5% este ano e 1,7% em 2024, colocando o nosso país próximo dos valores da da União Europeia (UE) – que deverá crescer 0,2% em 2023 e 1,6% em 2024. Em relação à inflação, estima-se que que desça para 6,2% em 2023 e 3,4% no ano seguinte. No que toca ao desemprego, o relatório prevê que a taxa em Portugal se fixe nos 5,9% este ano e em 6% em 2024.

Previsões económicas difíceis 

Quer para os países mais desenvolvidos, quer para os países menos desenvolvidos, considerando a inflação elevada, as políticas monetárias apertadas e as incertezas acrescidas que contribuíram para o abrandamento da recuperação económica, surgiu uma ameaça de recessão para 2023.  

A dinâmica de crescimento enfraqueceu significativamente nos Estados Unidos, na União Europeia e noutros países, o que se fez sentir no resto da economia mundial. As condições financeiras mundiais cada vez mais apertadas aliadas a um dólar forte, exacerbaram as vulnerabilidades fiscais e a dívida dos países mais pobres.  

Mais de 85% dos bancos centrais em todo o mundo restringiram as políticas monetárias e aumentaram as taxas de juro de forma a controlar pressões inflacionistas. Assim, a inflação mundial atingiu os 9% em 2022, mas prevê-se que desça para 6,5% em 2023, apesar de continuar num valor elevado. 

Recuperação de empregos e aumento da pobreza 

A maioria dos países em desenvolvimento registou uma recuperação laboral mais lenta em 2022 e continua a enfrentar uma considerável falta de emprego. Além disso, as perdas desproporcionais no emprego das mulheres não foram totalmente revertidas, o que levou a um aumento dos empregos informais. 

Segundo o relatório, este crescimento mais lento, associado a todos os fatores previamente mencionados, ameaça ainda prejudicar as conquistas alcançadas em relação ao desenvolvimento sustentável, piorando os impactos das crises atuais. Em 2022, o número de pessoas que enfrentavam insegurança alimentar tinha mais do que duplicado em relação a 2019, atingindo quase 350 milhões. Assim, um período prolongado de fragilidade económica que se prevê e um crescimento lento da economia mundial, não só dificultarão a erradicação da pobreza, como também afetarão negativamente a capacidade de investimento nos restantes ODS. 

Cooperação internacional  

Deste modo, o relatório faz um apelo aos governos para evitarem a austeridade fiscal, que por sua vez asfixiaria o crescimento, afetaria desproporcionadamente as pessoas mais vulneráveis e o progresso para a igualdade de género, potencialmente comprometendo o desenvolvimento das próximas gerações. Por outro lado, recomenda uma mudança de prioridades e a realocação das despesas públicas através de intervenções políticas diretas que irão criar empregos e revigorar o crescimento 

A ONU recomenda ainda investimentos públicos estratégicos na educação, na saúde, em infraestruturas digitais, em novas tecnologias e na mitigação das alterações climáticas pois podem oferecer retornos sociais, acelerar a produtividade e reforçar a resiliência aos choques económicos. 

Um compromisso internacional mais forte é necessário urgentemente para aumentar o acesso à assistência financeira de emergência, para reestruturar e reduzir a dívida nos países em desenvolvimento e aumentar o financiamento dos ODS.

UNRIC/RÁDIOILHÉU

Mauricio De Jesus
Maurício de Jesus é o Diretor de Programação da Rádio Ilhéu, sediada na Ilha de São Jorge. É também autor da rubrica 'Cronicas da Ilha e de Um Ilhéu' que é emitida em rádios locais, regionais e da diáspora desde 2015.