A laureada com o Prémio Nobel da Paz, Shirin Ebadi, e a astronauta Samantha Cristoforetti, discursaram no Parlamento Europeu, numa cerimónia que assinalou o Dia Internacional da Mulher.
Os oradores dos grupos políticos prestaram homenagem às mulheres que são uma inspiração para as jovens — às mães trabalhadoras que cuidam das suas famílias, às vítimas da violência baseada no género, às refugiadas que fogem da guerra, às alunas em perigo e às mulheres que ajudam outras a lutar pelo seu direito a um aborto seguro.
Referindo-se ao caso da ativista Justyna Wydrzynska, condenada ontem a oito meses de serviço comunitário na Polónia por ter dado pílulas abortivas a uma mulher que queria interromper a gravidez, alguns eurodeputados apelaram a que o direito ao aborto fosse acrescentado à Carta dos Direitos Fundamentais da UE. Reiteraram que as raparigas de países fora da Europa que necessitam da nossa solidariedade não devem ser esquecidas.
A presidente do Parlamento Europeu declarou que o Dia Internacional da Mulher não é apenas um momento para reconhecer as conquistas das mulheres e meninas em todo o mundo. Deve também ser um apelo à ação para reforçar a igualdade entre homens e mulheres em todas as esferas da nossa sociedade.
Considerando tratar-se de um convite para as sociedades fazerem melhor, Roberta Metsola disse: «É chegado o momento de a União Europeia dar o exemplo — estabelecer normas para criminalizar a violência contra as mulheres, melhorar o acesso à justiça e ratificar a Convenção de Istambul antes do final deste mandato.» O discurso completo da presidente do Parlamento Europeu está disponível aqui.
A presidente da Comissão Europeia elogiou as corajosas mulheres iranianas que lutam pela sua «liberdade de mostrar o cabelo ou cobri-lo, estudar, trabalhar, amar sem pedir a permissão de ninguém» e que são motivo de inspiração em todo o mundo. Ursula von der Leyen sublinhou o muito trabalho que ainda é necessário fazer para proteger as mulheres e prometeu apresentar a primeira lei da UE em matéria de luta contra a violência contra as mulheres. Agradeceu a todos os modelos, que mostram a rapazes e a raparigas que podem ser o que desejarem. Ursula von der Leyen concluiu, afirmando: «é hora de um mundo de igualdade e oportunidades justas, não apenas para meninas, mas para todos nós».
No seu discurso, a Comandante Cristoforetti salientou que o espaço é um elemento essencial da vida quotidiana, usado para serviços essenciais como monitoramento ambiental, resposta a desastres e transações financeiras. Samantha Cristoforetti observou que foi a primeira mulher comandante europeia da Estação Espacial Internacional «mas certamente não a última», apontando que no ano passado, a Agência Espacial Europeia selecionou uma nova classe de carreira e reserva de astronautas da qual mais de metade são raparigas.
A capacidade de enviar humanos para o espaço aumenta a confiança de que podemos enfrentar desafios difíceis. «Se pudermos enviar humanos para o espaço, não há nada que não possamos fazer, certo?», notou. «Vamos ter essa ambição na Europa. Já voei duas vezes para o espaço — em veículos russos e norte-americanos — sonho um dia em ver astronautas voarem para o espaço num veículo europeu.»
Shirin Ebadi apelou aos eurodeputados para que não voltem as costas aos protestos no Irão, provocados pelo assassínio da jovem Mahsa Amini, no qual mais de 550 pessoas perderam a vida e mais de 20 000 foram presas. Ebadi descreveu a terrível situação de jornalistas, advogados, escritores, artistas, ativistas estrangeiros e jovens estudantes presos e a inexistência de um sistema de justiça funcional e independente.
A laureada com o Prémio Nobel reiterou as reivindicações dos manifestantes por uma mudança de regime sob o lema «Mulher, vida, liberdade». Apelando às democracias para que não permaneçam indiferentes às violações dos direitos humanos no Irão, instou-as a identificar como grupo terrorista o Corpo de Guardas da Revolução Islâmica. Shirin Ebadi garantiu aos europeus que, se a democracia for estabelecida no Irão, não só o número de refugiados será reduzido, como também os iranianos poderão reconstruir o seu país, trazendo paz e calma para a região.
PE/RÁDIOILHÉU