Quando, na passada semana, na sequência da crise sismovulcânica na ilha de São Jorge, o governo dos Açores decidiu mobilizar todos os meios de proteção civil, acionar os planos de emergência, tomar medidas preventivas com vista a minimizar danos e a proteger as populações de uma previsível catástrofe natural, fez o que deveria ser feito.
Houve gastos que não serviram para nada, é certo; houve movimentação desnecessária de pessoas, também é verdade; algum alarmismo a roçar o pânico; custos para a economia. Tudo isto aconteceu e está a acontecer e espero que se fique por aí, pela desnecessidade. Seria bom sinal.
No momento em que esta crónica é escrita, tudo não terá passado de um susto, mesmo que ontem se tenha registado o maior sismo desta crise. Talvez por essa razão, começam agora os ataques ao governo e à proteção civil acusando-os de tudo e mais alguma coisa. Ainda bem que assim é. Antes isso do que estarmos agora a remediar danos, a contar mortos e prejuízos ou a pôr as mãos à cabeça sem saber o que fazer das cinzas e das ruínas de uma ilha, caso a desgraça se abatesse sobre a ilha do dragão inquieto.
Proteger é precaver e tudo assegurar para que pessoas, bens e animais se salvem ao máximo, dentro dos limites do previsível e da impossibilidade de se controlar a natureza. Numa situação como esta, não haverá máscara, álcool-gel ou vacina que nos possam valer.
Infelizmente, a ciência ainda não consegue prever com a exatidão e a eficácia que hoje se exige de tudo e para tudo sismos ou vulcões. Contudo, em relação a estes últimos, identifica sinais indicadores de que o evento possa ocorrer. É o que está a fazer. Em face disso, às entidades responsáveis pede-se que ouçam os especialistas e exige-se que atuem. É o que estão a fazer.
Para quem ache tudo isto bizarro, pensem no vosso seguro do carro ou da habitação. No que pagam e no retorno que, espera-se, nunca terão. Também me custa, sempre que chega o aviso, pagar o meu seguro automóvel, o da casa, o de vida, o dos acidentes de trabalho e alguns mais. Espero, no entanto, que esse seja mesmo dinheiro deitado fora, que nunca tenha de ser usado, seria mau sinal acionar qualquer um deles. Assim é com a proteção civil e as medidas de prevenção. Esperemos que tudo tenha sido em vão. Imagine-se o contrário. É melhor nem pensar nisso.
Não há problema. A proteção civil e as autoridades regionais fazem-no por nós. Pensam no pior cenário, criam planos de emergência e pedem-nos para colaborar.
Não se deve avaliar o desempenho dos membros do governo em funções e das autoridades regionais nas diferentes áreas em função das nossas simpatias pessoais. A política e o desempenho de cargos são uma coisa, as relações pessoais são outra completamente diferente. Não será, por isso, que tudo o que um secretário regional faça é bom, só porque se simpatiza com ele ou que tudo o que um governante faça é mau, só porque não é um gajo porreiro. Já levamos anos suficientes de democracia para que este provincianismo se torne coisa do passado.
Infelizmente, ainda não é. Não posso deixar de acrescentar que o reverso também é válido:
aos governantes também se pede que não olhem os açorianos consoante as suas afinidades ou antipatias pessoais. O que também está longe de ser passado…
Serviu este aparte para chegar à conclusão que pretendo tirar com este texto:
a segurança de pessoas é a prioridade e o trabalho realizado pelas autoridades regionais tem sido exemplar.
Quando decidi escrever sobre a crise sismovulcânica de São Jorge, contava relatar pequenas histórias ouvidas na primeira pessoa e que demonstram a tristeza e a ansiedade de quem lá vive e tem de deixar a sua casa, escolher o que levar na mala e selecionar os objetos e recordações que poderão ser consumidos pela lava e os que terão de ser salvos. A decisão é difícil e desumana.
Ninguém sabe o que vai encontrar no regresso. Por isso, é imperioso que se respeite quem decidiu deixar o concelho, a ilha, a sua casa. À sua maneira, numa escolha pessoal, toda esta gente o que quer é proteger a sua vida, a dos que lhes são próximos e as recordações que ao longo dos anos e gerações foram povoando casas e lugares. No fundo, a procura que cada um nós, individualmente, vai fazendo… só que sem urgência.
paulojribeiro@sapo.pt
DIÁRIOINSULAR/RÁDIOILHÉU