SÃO JORGE

“Retalhos Soltos” para a História do Concelho da Calheta (XIII) | União Popular: Fundada em 1854 assinala o seu 169º aniversário, por Paulo Teixeira

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Fajã de São João, 3 de agosto de 2023,
Paulo Teixeira

Com quase 100 anos de diferença nasceram estas duas filarmónicas que no passado fim de semana de 28, 29 e 30 de julho, assinalaram os seus aniversários: na freguesia da Ribeira Seca, a União Popular e no Topo, a Recreio Topense.

Em 1854 é fundada a primeira filarmónica da ilha de São Jorge na freguesia da Ribeira Seca, num movimento que tinha começado nos anos de 1840 pelas ilhas de São Miguel e Terceira, de estender as filarmónicas à sociedade civil. A União Popular foi uma das primeiras bandas fundadas nos Açores e é hoje a mais antiga em atividade, mantendo uma formação de qualidade que em muito contribui para a elevada propriedade que exibe nas suas atuações.

Como todas as instituições, tem na sua longa história momentos de glória como, também, momentos de maior dificuldade sendo, talvez, o mais difícil de todos, aquele que Padre Manuel Azevedo da Cunha nos relata em Notas Históricas, quando refere que: “Com o falecimento de José (Augusto César) dos Santos, em 21 de julho de 1906, a filarmónica de São Tiago (Ribeira Seca), pode dizer-se que se extinguiu.”


Não se sabe ao certo quando e como foi ultrapassada esta crise, mas a hipótese apontada como mais provável, é que teria sido com o regresso de António Ramiro à Ribeira Seca, então a frequentar o seminário na ilha Terceira, que se teria reativado a atividade da filarmónica. Este António Ramiro foi figura de grande relevo na sociedade calhetense, publicando, inclusive, um livro e tendo sido responsável por um jornal.


À fundação da União Popular estão ligadas pessoas como os Doutores Cunha e a família Lacerda. O seu primeiro regente foi o faialense Joaquim Alberto Lança, certamente contratado no fim do ano de 1853 quando esteve na Calheta a afinar o órgão. Sucedeu a este o já referido Professor José Augusto César dos Santos, até à data do seu falecimento.


O mestre Francisco Cardoso, alfaiate de profissão e natural da Ribeira Seca foi outro dos regentes. Foi seguido de outro local, Mestre Manuel Augusto da Silva, mais conhecido por Mestre Manuel Gilberto, por ser filho de um Gilberto que era músico na filarmónica. Chegou a ser administrador do Concelho da Calheta nos anos de 1930. Neste espaço que conduziu a banda terá, em algumas situações, sido auxiliado nos ensaios pelo Flamínio e pelo Leandro Silva, provavelmente a fase em que este último compõem o hino (1935) da filarmónica. Provavelmente foi nesta fase que, igualmente, foi composto o da Recreio dos Lavradores e possivelmente por influência do Mestre Gilberto, que chegou a ir a Santo Antão ensaiar a banda.


Foram regentes, o local Tomás Ávila e o Padre de fora, Francisco Pimentel, sucedendo Januário Pedro Fontes e a este o Senhor Francisco Noronha. Neste percurso alguns exerceram as funções por mais de uma vez. Ouve quem nos tivesse referido que Manuel Maria Silveira Bettencourt teria igualmente ensaiado esta filarmónica, mas nada se encontrou escrito. Podemos mais recentemente destacar José Flávio Leonardes; Professor José Avelino; Senhor Porfírio; Joseph Pereira e Marco Silva.


É, hoje, muito bem orientada pelo jovem Sérgio Cabral, licenciado em Instrumentista de Orquestra pela Academia Nacional Superior de Orquestra e prestes a iniciar o seu mestrado em Administração Escolar pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. Completa o seu currículo pessoal, com diversas formações, estágios e participações com destaque para masterclasses em direção. E junta-se a tudo isto uma valorização extraordinária, a grande paixão pela música e pela banda. É de grande reconhecimento que tão valioso recurso tenha voltado à sua terra natal com disponibilidade para trabalhar na sua banda filarmónica.

Tenho grande apreço pessoal pelo Sérgio, que conheci através do futebol e a quem desejo o maior sucesso do universo e que os seus sonhos sejam constantemente perseguidos, sem se deixar limitar pelo mar que nos rodeia.

Antes de ter sede própria a filarmónica ensaiou na Casa do Espírito Santo.

No programa das festas destaque na sexta feira para a atuação de “Helfimed”, e no sábado para a presença do notório grupo musical terceirense, “Fado Alado”, que se notabilizou quando, há dois anos, venceu o Got Talent. Já no domingo, de referir o encerramento, com concertos pelas excelentes filarmónicas jorgenses: Estímulo, da Vila da Calheta e a própria União Popular.

Com este pequeno retalho deixo a minha homenagem a todos os que ao longo destes 169 anos contribuíram para a construção e engrandecimento da Sociedade União Popular da Ribeira Seca.

Por fim felicitar os seus corpos gerentes, sócios, músicos e simpatizantes pelo excelente trabalho que continuam a desenvolver para manter a sua Filarmónica nos mais elevados patamares de qualidade das filarmónicas açorianas.

Mauricio De Jesus
Maurício de Jesus é o Diretor de Programação da Rádio Ilhéu, sediada na Ilha de São Jorge. É também autor da rubrica 'Cronicas da Ilha e de Um Ilhéu' que é emitida em rádios locais, regionais e da diáspora desde 2015.