OPINIÃOSÃO JORGE

“Retalhos Soltos” para a História do concelho da Calheta | Mestre Diogo Chaves Lopes. Filarmónica Clube União do Topo – 155.º aniversário

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Este retalho vai fragmentado e incompleto, contudo senti que os 155 anos desta agremiação topense mereciam que se registasse alguma coisa sobre a sua rica e extensa história e assim optei por trazer esta figura que me tem intrigado desde que em julho de 2019 avancei com um retalho dedicado à comemoração dos 150 anos do Clube União, publicado no DI em 24 de julho de 2019 que procurava relatar os primeiros anos da sua existência.

Avançar com este retalho é lançar para a mesa hipóteses que procurarei fundamentar, mas sem qualquer pretensão de que encerrem a verdade, antes pelo contrário que possam despertar o surgimento de outros factos para se completar este retalho.

É no caminho da hipótese que aventuro dedilhar quanto encontrei desde julho de 2019 sobre aquele que parece ser o “Mestre Chaves” que na Vila do Topo teria sido o mestre fundador da sua primeira filarmónica.
Nesse artigo referia-me a um outro publicado em 15 de abril de 1871 n’O Jorgense para defender que o primeiro mestre da filarmónica fundada em 1869 teria sido o Mestre Chaves.

Mas quem era Mestre Chaves? Embora tivesse procurado em quantos arquivos me ocorressem, a verdade é que nada mais encontrei e conclui que “provavelmente seria um guarda-fiscal colocado no Posto de Vila Nova do Topo que sabia música”.

Neste artigo de 2019 também aventuro que o primeiro nome teria sido o de Harmónica Topense, com a fundamentação de artigo de 6 de abril de 1874, publicado no jornal “O Jorgense” que assim denominava a filarmónica do Topo.

Há nestes dois apontamentos três notas importantes que gostaríamos de destacar para o desenvolvimento hipotético deste nosso aventuroso retalho:

  • O mestre Chaves;
  • O nome da filarmónica “Harmónica Topense”;
  • O jornal “O Jorgense” que se publicava na Vila das Velas.

Por coincidência e quando investigava outro qualquer assunto encontrei o registo de um casamento, em 8 de agosto de 1871, de Rosa Elvira Chaves, na Vila do Topo, filha de um tal de Diogo Chaves Lopes e de uma Rosa Angela de Nazareth, que é como assina no registo do seu casamento, embora no assento de óbito do marido figure como Rosa Angela Cardoso Chaves.

Um Chaves, guarda de 1a classe da alfândega, na Vila do Topo em 1871 só podia ser o Mestre da Harmónica Topense! Desatei a investigar e continuo a tentar encontrar mais informação sobre este Senhor Diogo.

Descobri que Diogo Chaves nasceu em Ponta Delgada, a 30 de agosto de 1829, filho de António Wenceslau Chaves(1) (Valladolid – Espanha 1786/ 26-1-1856 Angra) e de Maria Anunciada (Sicília – Itália 1800/1858-4-26 Angra, filha de José Inácio Cardoso & Angela da Nazareth de Avis); que casa na ilha Terceira em 2 de maio de 1846 com Rosa Angela de Nazareth, onde nasceram os filhos Angela (1847), Maria Glória (1848), Emilia (1850), João (1852), Rosa (1853), Amélia (1856), Elvira (1858), A. Ernestina (1859), Alfredo (1862) e Cristina (1867). Na ilha de São Jorge ainda nasceu o Artur em 1869.

Descobri que Diogo Chaves Lopes faleceu, reformado de Chefe de Posto do Quadro de Fiscalização Externa das Alfandegas, a 4 de abril de 1897 em Ponta Delgada.

Tirando o casamento da filha em Vila Nova do Topo não encontramos, para já, outro elemento que o coloque naquela Vila e nem por quanto tempo ali serviu. Aquilo que podemos deduzir é que Diogo Chaves terá sido colocado na Vila das Velas, depois de 10 de abril de 1867, data do nascimento, em Angra, da filha Cristina Cardoso Chaves e 24 de abril de 1869, data em que a mesma é batizada nas Velas, também, dia de casamento da irmã Angela Carolina Chaves com João Maria Pedreira.

Este casal apadrinha em 2 de agosto Artur, filho de Diogo Chaves já nascido na vila das Velas em maio de 1869 onde é igualmente batizado e que nos coloca assim Diogo Chaves nesta Vila.

Chegados a este ano de 1869, indicado como o ano de fundação da Harmónica Topense, somos levados acreditar que Diogo Chaves terá sido transferido para a Vila Nova do Topo, como guarda de 1a classe da Alfandega e terá sido esta feliz casualidade que originou a criação da filarmónica.

Sabemos que Diogo Chaves era músico de ocupação/ profissão no exercício da carreira militar, que o seu pai era mestre de música e os seus irmãos António Félix Chaves e Inocêncio Victor Chaves, também eram músicos, sendo este último de 1a classe, provável razão para que pareça ser o mestre da Sociedade Harmónica de Angra do Heroísmo que se estreia a 12 de abril de 1857 e onde, também, é executante o nosso Diogo Chaves, conforme nota e listagem dos músicos do jornal O Insulano (AH) de 13-4-1857.
Feita esta ligação de Diogo Chaves com a música e com a profissão, destacamos o nome da filarmónica “Harmónica” que se afigura de inspiração na filarmónica de que foi músico fundador em Angra do Heroísmo, sob a batuta do irmão que era mais graduado.

Além destes factos que nos ajudam a colocar Diogo Chaves no Topo, penso que o facto de ter passado pelas Velas e ali ter conhecimentos, foi a razão por que estes pequenos pormenores aparecem publicados num jornal daquela Vila, em atenção ao Senhor guarda.

Pensamos que foi através deste Mestre Chaves que ainda hoje o nome existe na ilha de São Jorge e que embora não tenha conseguido estabelecer ligação, creio que terá relação com o Mestre Albano Chaves da freguesia da Urzelina, que chegou a ensaiar a Filarmónica Recreio dos Lavradores de Santo Antão, viajando na urbana ao sábado, fazendo dois ensaios, no próprio dia e no domingo, depois da missa, para regressar à Urzelina na segunda feira de manhã.

Se estivermos certos é muito possível que o ramo dos Chaves venha do casamento da filha Emília Elmina de Chaves com Manuel Pereira de Lacerda, nas Velas em 23-6-1890, tendo uma filha Ostiana Chaves de Lacerda que casou com Manuel Viegas da Silveira.

Este casamento em 1890 nas Velas pode indicar que Diogo Chaves possa ter voltado a exercer a sua profissão naquela Vila antes de se ausentar para Ponta Delgada onde viria a falecer.

Uma outra possibilidade, que não consegui alcançar, é de que o filho Artur possa ter casado na ilha de São Jorge e por cá tenho deixado descendência e que por uma questão de transmissão do nome do pai teria eventualmente mais força nesta teoria da difusão e manutenção do nome Chaves. Por último sempre a possibilidade de existirem mais filhos que não alcançámos.

É com este breve retalho, que é mais um conjunto de factos que tentam montar uma teoria ainda a carecer de investigação para merecer confirmação para a história desta coletividade, que felicitamos os corpos gerentes, músicos, sócios e simpatizantes do Clube União na celebração do seu 155.º aniversário.
Sabemos que há mais informação sobre este Diogo de Chaves (Lopes), pelo que fazemos votos de que este retalho possa encontrar destinatários com mais conhecimentos que se disponham a partilhar, o que desde já agradecemos, disponibilizando o email: saojoao11@gamil.com para onde podem enviar qualquer informação que entendam pertinente.

DIÁRIOINSULAR/RÁDIOILHÉU

Mauricio De Jesus
Maurício de Jesus é o Diretor de Programação da Rádio Ilhéu, sediada na Ilha de São Jorge. É também autor da rubrica 'Cronicas da Ilha e de Um Ilhéu' que é emitida em rádios locais, regionais e da diáspora desde 2015.