OPINIÃO | Um menino nascido no Topo (Ilha de S. Jorge) que deu dimensão à sua Ilha e aos Açores
O capitão José da Cunha Ferreira, filho de João de Azevedo da Cunha e de D. Mariana da Glória, nasceu no Topo a 13 de novembro de 1856. Destemido, inteligente e de grande capacidade, embarcou com a idade de 12 anos, na barca “Amizade”.
Decorria o ano de 1868 quando parte do porto da Calheta numa grande aventura que o leva (passados alguns meses) a desembarcar na Costa Leste dos Estados Unidos, no Porto de Provincetown.
Aqui a sua paixão pela atividade marítima torna-o num marinheiro exemplar e a sua aptidão pela arte de marinhar, associada à sua personalidade leva-o, em poucos anos, a tornar-se um exímio capitão de navios bacalhoeiros. No exercício desta competência, este jovem capitão, apercebeu-se que a cotação do bacalhau, em Portugal, era muito superior ao preço praticado nos Estados Unidos da América e, no ano de 1885, passados pouco mais de dez anos (nesta sua nova profissão) arranjou um carregamento de bacalhau e rumou a Lisboa, comandando o excelente veleiro “MARIA INÊS, vendendo a bom preço todo a carga à Casa Bensaúde & companhia Lda. Nesta sua viagem fez escala no porto da Calheta e encontrou-se com os seus primos António e José Mariano Goulart (que já não os via há muitos anos) e referiu os ganhos com a sua venda de bacalhau em Portugal, palratório que convenceu os primos para esta industria, e deles recebeu a incumbência de comprar um navio na América para a empresa que, no mesmo ano foi constituída, com a designação de Mariano & Irmãos de Lisboa, tendo como porto de armamento a Praça da Figueira da Foz.
A partir de 1885, com a aquisição do primeiro navio pela empresa Mariano e Irmãos Lda, este notável capitão passa a comandar as melhores embarcações de pesca na Terra Nova pois esta empresa pouco demorou a ampliar a sua frota com quatro navios, todos eles registados com o nome de Júlia (Júlia I, II,III,IV), nome da irmã destes empresários.
Na verdade a frota bacalhoeira portuguesa estava fragilizada pelo facto do governo não autorizar a construção de navios para esta pesca e pressupostamente pelo facto do pescado importado permitir a arrecadação de impostos e consequentemente rendimento para os cofres do Estado. È nestas circunstâncias que a compra e adaptação de navios para esta pesca foi uma forma inteligente de negócio e, por via disso deve-se, ao distinto capitão José da Cunha Ferreira, o reinício, em Portugal, da pesca do bacalhau pois a outra grande empresa também foi açoriana com a designação de “Casa Bensaúde & Companhia, Lda” mas, tudo aconteceu pelo facto do Capitão José da Cunha Ferreira lhe ter vendido o seu primeiro carregamento de bacalhau e os ter entusiasmado a esta fileira da pesca.
O seu nome perpetuou-se com o surgimento de uma nova em empresa , propriedade dos mesmos empresários e designada por ATLÂNTIDA – COMPANHIA PORTUGUESA DE PASCAS, LDA que, em memória do Capitão José da Cunha Ferreira, mandou construir um belo navio e baptizou-o com o nome do supracitado comandante.
Hoje podemos encontrar um dóri (pequena embarcação da pesca do bacalhau de um só tripulante) do navio Capitão Ferreira no Deutsches Museum (Museu alemão da ciência e tecnologia onde existem mais de 18 010 objectos catalogados) situado em Munique, que recebe 1,3 milhões de visitas por ano. Este dóri perpétuo, no Mundo, a memória deste nosso conterrâneo e, neste mesmo espaço, sinaliza a nossa pequena Ilha.
Aproveito a manifestar o meu desejo de, um dia, se tornar realidade a exposição, no Museu Francisco de Lacerda, do espólio sobre este assunto, que se encontra no Museu Marítimo de Ílhavo.