Disse o Presidente do parlamento regional, Luís Garcia, haver a necessidade de motivar as mulheres na política local e a necessidade do seu envolvimento, convidando-as para trabalhar em cargos políticos, “convencendo-as a não ter medo de dar a cara, em vez de se deixarem ficar sempre escondidas nos bastidores, onde frequentemente marcam presença e para onde mais facilmente se voluntariam”.
Tem razão! Realmente, para o século XXI, e após tantas lutas que permitiram à mulher a possibilidade de desempenhar um papel decisor, seja através do voto ou da sua eleição, esperava-se um número mais elevado de mulheres na política. Mas não só na política local, como também na regional.
Basta atentarmos no número de homens deputados e de mulheres deputadas, na nossa assembleia, para percebermos que estamos longe do que se pretende para uma sociedade que se paute pela igualdade e equidade. Vejamos, num universo de 57 decisores políticos, somente 19 são mulheres. Ou seja, somente 1/3.
As alterações à legislação, que foram sendo feitas, fruto da pressão exercida por diversos organismos e pela luta feminista, deu origem à atual Lei da Paridade – que define uma representação mínima de cada um dos sexos. A necessidade de haver uma representação mínima consignada em lei, reflete bem a mentalidade em que, ainda, vivemos. Uma sociedade conservadora e patriarcal que não percebe a necessidade da linguagem inclusiva, por exemplo. E este sistema estruturado faz com que o número de mulheres eleitas e à frente de cargos políticos seja bastante reduzido. Faz com que ainda seja necessária uma lei a definir uma representação mínima. E é essa representação mínima que, na maior parte das vezes, encontramos na enumeração de listas candidatas.
No entanto, também há que assinalar que nem todas as pessoas, essencialmente mulheres, têm disponibilidade para ouvir algumas intervenções que são feitas. Aliás, a atual legislatura tem sido fértil em intervenções e apartes que se caracterizam pelo sexismo, misoginia, “bodyshamming”, num total desrespeito à mulher. Não será de ponderar se estes comportamentos não poderão influenciar negativamente a decisão de uma mulher para ser votada?
No plenário do mês de novembro, o deputado José Pacheco, em mais uma das suas intervenções para acirrar o ódio contra os mais vulneráveis, dirigiu-se a uma deputada (não a uma bancada), de dedo em riste, num tom e palavreado vergonhosos. Não satisfeito, aproveitou para lançar um ataque a crianças que não têm culpa do ambiente em que vivem e para, no âmbito das 1001 histórias pessoais com que gosta de documentar as suas intervenções, referir que se tinha virado para uma técnica a perguntar se ela se estava a oferecer (para fazer filhos). Esta última parte acompanhada pela gargalhada bem audível do Sr. Vice-Presidente desta região. Pensei que José Manuel Bolieiro, como Presidente, teria uma palavra a condenar aquelas palavras. No entanto, enterrou-se na sua cadeira e perdeu-se nos seus pensamentos em latim. O “ourives” preferiu não arranjar mais problemas na sua joia – coligação – do que agir em defesa do respeito às mulheres.
Falei eu, pois enquanto mulher, cidadã e deputada não serei conivente com intervenções que atentem contra crianças, mulheres e homens.
Como se pode ver, os mecanismos para motivar a participação das mulheres na política até estão criados, no entanto, falta o essencial: o reconhecimento da sua real importância e o respeito.
A democracia constrói-se todos os dias e deve assentar numa sociedade forte e organizada, que pressione a redistribuição de poder e recurso, de forma igual entre mulheres e homens e não como a política liberal concebe: a igualdade em que os homens estão dentro de cada estrato social, mantendo a hierarquia social intacta.
Aproveito para fazer uma referência aos escritos que têm sido publicados acerca da votação do BE nos Plano e Orçamento para 2023. Esqueceram esses escribas de referir que PSD, CDS, PPM, IL e Deputado Independente NÃO concordaram, por exemplo, com o aumento de verba para a cultura (onde se inclui a verba para Audiovisuais – Desenvolver a estratégia do audiovisual e multimédia nas áreas de formação, divulgação e promoção que havia desaparecido), as obras no Centro de Saúde da Ribeira Grande (que está a cair), as obras no auditório da Escola Secundária Manuel de Arriaga (onde chove abundantemente) ou com as obras tão necessárias na “estrada do Mato”, no Faial (onde há mais buracos do que estrada). Esses partidos votaram contra estas propostas! Valem mais uns “soundbites” para a comunicação social. Esses partidos vão permitir que centenas de pessoas que asseguraram o funcionamento de diversos organismos da região durante 3 e mais anos, sejam dispensadas e fiquem desempregadas sem qualquer proteção. Mais vale centenas de desempregados do que um euro a menos nos cofres da região…ou qualquer coisa assim.
Alexandra Manes, Dirigente do BE/Açores