OPINIÃO

OPINIÃO | O dia em que vi os Nirvana em Portugal, por Paulo Freitas do Amaral

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Tinha 16 anos e fui dos primeiros adolescentes que conseguiu bilhete para ver Kurt Cobain tocar no pavilhão dramático de Cascais. O encontro entre os cerca de 5000 portugueses e os Nirvana estava marcado para sensivelmente dois meses antes da sua morte a 5 de abril de 1994. Faz este ano de 2024,  cerca de trinta anos após a data da sua morte e do seu concerto em terras lusas a 6 de fevereiro de 1994.

O dia do concerto era um dia cinzento com choviscos, era um dia de semana e o fato de termos de faltar às aulas aumentava o nosso “teen spirit” de rebeldia que habitava dentro do coração da minha geração. A geração que nesse mesmo ano tinha saído à rua contra a introdução das provas globais no secundário e as decisões de Cavaco Silva e Manuela Ferreira Leite, ministra da educação.  A conhecida “geração rasca”e que bem lhe assentava como banda sonora a revolta de Kurt Cobain da juventude que também poderia ser muito bem apelidada de “geração nevermind”…

Após uma argumentação dura em casa com a família acerca da importância de ir ver ao vivo um icon da minha geração, lá fui com o meu amigo Frederico Kessler e o meu amigo Sebastiano Ferranti ver os Nirvana. 

O ambiente à volta do pavilhão era calmo…as indumentárias eram espampanantes, os óculos de massa coloridos, as calças rasgadas, os ténis All stars e as camisolas às ricas abundavam nas longas filas que existiam desde a hora do almoço à volta do pavilhão…

Eu e os meus amigos levámos um lençol onde escrevemos com spray a frase “Jump Kurt” para a mostrar mesmo em frente a Kurt e que nenhum efeito produziu no vocalista…

Aliás,  a interação de Kurt com o público foi nula, sem diálogos e sem ações teatralizadas…as únicas palavras foram de Kris Novoselic…no entanto tocaram todos os êxitos e cumpriram a missão de entusiasmar o público até ao último segundo…

Os Nirvana eram os ídolos da minha geração…em todas as escolas secundárias em Portugal nesta altura havia certamente um grupo musical ou um grupo “grunge” e a explosão de bandas como os guns n roses, os metallica ou os pearl jam fizeram da música,  um espécie de “solo sagrado” de formas de estar na vida e de sonhos para o futuro.. não havia música feita em computador, nem artificialismos…era tudo muito genuíno…tudo o que se cantava, lia e escrevia….

Hoje, as novas gerações poucos sabem daquilo que se passou na altura! Ficou o sucesso das t-shirts das Nirvana…talvez faça as novas gerações reviverem e redescobrirem o “teen spirit”…

Paulo Freitas do Amaral, Professor de História 

Mauricio De Jesus
Maurício de Jesus é o Diretor de Programação da Rádio Ilhéu, sediada na Ilha de São Jorge. É também autor da rubrica 'Cronicas da Ilha e de Um Ilhéu' que é emitida em rádios locais, regionais e da diáspora desde 2015.