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OPINIÃO | Maria Manuela Aguiar: uma vida dedicada à emigração, por Daniel Bastos

Maria Manuela Aguiar
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No conjunto de personalidades que ao longo dos últimos anos têm contribuído decisivamente para a valorização e dignificação da emigração portuguesa, destaca-se, sobremaneira, o papel ativo de Maria Manuela Aguiar, antiga Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas e deputada pela Emigração.

Natural de Gondomar, onde nasceu em 1942, Maria Manuela Aguiar é licenciada em Direito, área em que deu os primeiros passos da sua vida profissional através do desempenho da docência na faculdade da Universidade Católica de Lisboa, na Universidade de Coimbra, e inclusive, como Secretária de Estado do Trabalho no governo de Mota Pinto.

Entre 1980 e 1987, tornou-se a primeira mulher a assumir o cargo de Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, sendo que o seu percurso sociopolítico computou ainda a eleição como deputada pelos círculos da Europa (1985), Porto (1987), Aveiro (1991) e pelo círculo Fora da Europa, em 1995, 1999 e 2002.

Enquanto decisora política, ou desde o início dos anos 90, como fundadora da Associação Mulher Migrante (AMM), instituição onde tem desempenhado um relevante ativismo cultural em prol do combate às desigualdades e à discriminação contra as mulheres, especialmente as migrantes, Maria Manuela Aguiar é unanimemente reconhecida como uma incansável defensora dos direitos dos portugueses no mundo. 

Autora de uma profícua bibliografia sobre matérias relacionadas com a emigração lusa, recentemente publicou o livro O Conselho das Comunidades Portuguesas – Espaço de Utopia e Experimentação. Uma obra dedicada à génese do órgão consultivo do Governo para as políticas relativas às comunidades portuguesas no estrangeiro, no qual a pioneira dos direitos dos emigrantes portugueses, teve um papel estruturante.

Uma obra reflexiva, assente na noção do dever de memória, porquanto contribui amplamente para um conhecimento mais aprofundado sobre a criação, as etapas, os momentos e os contributos de um órgão que nas palavras abalizadas da autora tem como «vocação originária: ser uma “assembleia” verdadeiramente representativa e influente, o grande fórum da Diáspora e da emigração portuguesas».

Um livro que é igualmente um testemunho de compromisso incondicional com os emigrantes portugueses, os mais genuínos embaixadores da pátria de Camões, e concomitantemente de respeito pelo passado, de crença no presente e de esperança no futuro das comunidades portuguesas, a mais autêntica e consistente manifestação lusa além-fonteiras.  

Quando ainda há poucos dias cerca de 1,5 milhões de compatriotas residentes no estrangeiro escolheram os 90 membros do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). O livro recentemente publicado por Maria Manuela Aguiar, na esteira do seu percurso de vida, assume-se, não só como um instrumento incontornável para a compreensão do CCP, mas também como um valioso contributo para o estudo e entendimento da emigração portuguesa.

Comungando do pensamento do escritor argentino Jorge Luís Borges, “o livro é a grande memória dos séculos… se os livros desaparecessem, desapareceria a história e, seguramente, o homem”, podemos crer que a memória e a história do CCP e da emigração portuguesa ficam assim prodigamente enriquecidas e salvaguardas. 

Mauricio De Jesus
Maurício de Jesus é o Diretor de Programação da Rádio Ilhéu, sediada na Ilha de São Jorge. É também autor da rubrica 'Cronicas da Ilha e de Um Ilhéu' que é emitida em rádios locais, regionais e da diáspora desde 2015.