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OPINIÃO | George Perry: um neurocientista com orgulho nas raízes portuguesas, por Daniel Bastos

O lusodescendente George Perry é um dos principais investigadores mundiais da doença de Alzheimer
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A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos Arquipélagos dos Açores e da Madeira, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial.

Atualmente, segundo dados dos últimos censos americanos, residem nos EUA mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, principalmente concentrados na Califórnia, Massachusetts, Rhode Island e Nova Jérsia. A grande maioria da população luso-americana trabalha por conta de outrem, na indústria, mas são já muitos os que trabalham nos serviços ou se destacam na área científica, no ensino, nas artes, nas profissões liberais e nas atividades políticas. 

Entre as várias trajetórias de portugueses ou lusodescendentes que se distinguem pelo papel empreendedor e inovador no contexto da sociedade norte-americana, e que constituem simultaneamente um ativo estratégico na promoção internacional e de investimento económico em Portugal, destaca-se o percurso inspirador do neurocientista George Perry, um dos principais investigadores mundiais da doença de Alzheimer.

Neto de portugueses das ilhas açorianas do Pico e de Santa Maria que emigraram para os EUA no alvorecer do séc. XX, George Perry nasceu perto de Lompoc, cidade localizada no estado americano da Califórnia, no condado de Santa Bárbara. Tendo crescido numa quinta isolada, o pai era agricultor e cortava a relva num campo de golfe, a mãe era empregada de limpeza num hotel, o esforço e a resiliência que o jovem lusodescendente apreendeu no seio familiar. impeliram desde muito cedo um gosto peculiar pela formação inicial em Biologia.

Depois desta primeira etapa de formação como biólogo marinho, que passou pela graduação na Universidade da Califórnia em Santa Bárbara na década de 1970; a aquisição de experiência profissional na Estação Marítima de Hopkins, em Stanford, e um doutoramento na Scripps Institution of Oceanography em La Jolla, um centro de oceanografia e ciências da terra sediado na Universidade da Califórnia, em San Diego. George Perry iniciou a partir dos anos 80 um percurso notável e de referência no âmbito doença de Alzheimer, a forma mais comum de demência, caracterizada por uma redução no número e tamanho das células cerebrais que deteriora de forma irreversível as funções cognitivas dos doentes. A linguagem, o pensamento, a atenção e a concentração são algumas das funções afetadas pela doença que leva à morte das células cerebrais e ao corte de comunicação dentro do cérebro.

Professor de Biologia e Decano da Faculdade de Ciências na Universidade do Texas em San Antonio, George Perry é atualmente um dos principais investigadores da doença de Alzheimer, com mais de 1.000 publicações, e um dos 100 cientistas mais citados em neurociência e comportamento. Contexto que concorre para que seja uma referência mundial na doença de Alzheimer, como corrobora o facto de ser, entre outros, diretor editorial do “Journal of Alzheimer’s Disease”, e tenha sido reconhecido com o “Distinguished University Chair in Neurobiology” da Semmes Foundation.

Uma das dimensões mais singulares do neurocientista, que é também Presidente da American Association of Neuropathologists e da Southwestern and Rocky Mountain Division of the American Association for the Advancement of Science, e membro de inúmeras associações e organizações ligadas à Ciência, como as Academias de Ciência do México, Portugal e Espanha, é o seu profundo apego às raízes portuguesas.

Ao longo dos últimos anos George Perry tem estreitado a ligação com a pátria de origem dos seus antepassados, como atesta o facto de ser um dos principais dinamizadores da National Organization of Portuguese Americans (NOPA), e da TEXASPALC – Texas Portuguese American Leadership Conference. Assim como, jurado da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa para o prémio anual de Neurociências, e desde 2018, membro do Conselho da Diáspora Portuguesa. Uma associação constituída com o Alto Patrocínio do Presidente da República que tem como propósito estreitar as relações entre Portugal e a sua diáspora, portugueses e luso-descendentes, para que estes através do seu mérito e influência contribuam para a afirmação universal dos valores e cultura portuguesa, bem como para a elevação e reforço permanente da reputação do país.

Uma das figuras mais proeminentes da comunidade luso-americana, o percurso notável de vida e profissional de George Perry, aliado ao seu profundo apego às raízes portuguesas, inspira-nos a máxima do poeta e dramaturgo alemão August Graf von Platen: “O ideal deve, como a árvore, ter as suas raízes na terra”. 

Mauricio De Jesus
Maurício de Jesus é o Diretor de Programação da Rádio Ilhéu, sediada na Ilha de São Jorge. É também autor da rubrica 'Cronicas da Ilha e de Um Ilhéu' que é emitida em rádios locais, regionais e da diáspora desde 2015.