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OPINIÃO | Enquadrando o futuro: A esperança, o medo, e a comunicação-social nas campanhas de Harris e Trump, por Diniz Borges

Diniz (Dennis) Borges Portuguese Beyond Borders Institute-Director
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A eleição presidencial de 2024 colocou no centro das atenções duas visões contrastantes para a América. A vice-presidente Kamala Harris e o ex-presidente Donald Trump traçaram caminhos distintos para a nação, cada um tratando os desafios e aspirações do país com abordagens divergentes. Os Estados Unidos aproximam-se de uma das suas eleições mais importantes, a análise destas campanhas revela não só o que cada candidato defende, mas também o futuro que perspetivam para os Estados Unidos.  A democracia, a estabilidade, o progresso, os direitos dos imigrantes, a justiça social, os acordos internacionais, o respeito pela oposição e as oportunidades económicas para a classes trabalhadora, entre outros temas estão em jogo no dia 5 de novembro. 

Kamala Harris: Uma visão de unidade, progresso e equidade social

A campanha de Kamala Harris concentrou-se numa mensagem de unidade, progresso económico e justiça social. Com base nas políticas da administração Biden, Harris defende estratégias que abordam as alterações climáticas, expandem os cuidados de saúde e criam uma economia mais equitativa. A sua visão da América é uma visão em que os cidadãos trabalham em conjunto para ultrapassar questões urgentes, desde o aumento dos custos dos cuidados de saúde, os custos do envelhecimento na América aos desafios climáticos. As suas propostas incluem a continuação do investimento em energias renováveis, o aumento do salário mínimo nacional (uma vergonha em muitos estados), a expansão do acesso aos cuidados de saúde e a melhoria do financiamento da educação.

Harris pretende envolver diversos grupos, especialmente os eleitores mais jovens e das minorias, com a sua mensagem de um futuro mais inclusivo. Apresenta-se como uma líder estável e experiente que compreende as nuances dos atuais desafios da nação, o que constitui um forte contraste com o seu adversário. A estratégia de Harris reflete uma abordagem a longo prazo para alcançar a equidade económica e social, na esperança de inspirar os eleitores a votar num futuro estável e progressista.

A cobertura mediática da campanha de Harris tem-se centrado, em grande medida, no seu apelo à moderação e a soluções pragmáticas, embora os meios conservadores argumentem que as suas políticas são demasiado progressistas e financeiramente inviáveis. Em resposta, a sua campanha destaca a investigação que apoia a sua visão económica, salientando que o investimento do governo em infraestruturas, energias e renováveis e saúde pública pode impulsionar o crescimento sustentável da nação. Ao expor-se como a candidata do progresso, Harris procura apresentar-se como a líder preparada para conduzir a América a uma nova era de liderança global e estabilidade interna.

Donald Trump: Uma plataforma de nacionalismo, neoliberalismo económico, xenofobia e instabilidade

A campanha de Donald Trump, pelo contrário, centrou-se em temas como o nacionalismo, a liberdade económica e a segurança. Trump enfatiza o seu compromisso com as políticas “America First”, prometendo restaurar o que considera ser a prosperidade económica perdida e defender as fronteiras do país. A sua campanha argumenta que as políticas de Harris são indicativas de um exagero do governo federal, com Trump a insistir que a desregulamentação, os cortes nos impostos e a contenção do governo são essenciais para o renascimento económico e a liberdade individual. Apesar do governo de Trump entre 2016 e 2020 ter sido um dos maiores de sempre e ter aumentado, significativamente, a dívida do país.

A mensagem do movimento MAGA, que tem abafado o Partido Republicano ressoa fortemente junto dos americanos das zonas rurais e da classe trabalhadora, que se sentem excluídos dos debates políticos dominantes. Os comícios de campanha de Trump estão repletos de promessas de redução de impostos, restabelecimento de fronteiras seguras e restauração do que ele chama de “verdadeiros valores americanos”. O antigo presidente apela aos que estão preocupados com a criminalidade, a inflação e o declínio do orgulho nacional, apresentando-se como o defensor da América tradicional, a que como caso pessoal, permite que se fuja às responsabilidades financeiras indo à bancarrota múltiplas vezes.

A cobertura mediática da campanha de Trump reflete a natureza polarizadora das suas mensagens. Os meios de comunicação social conservadores celebram frequentemente a sua ousadia, apresentando-o como um líder forte que não tem medo de desafiar o status quo, enquanto os meios de comunicação social liberais se concentram na sua retórica divisiva, alertando para as consequências para as instituições democráticas e as alianças internacionais. A reemergência de Trump como voz populista explora um profundo sentimento de privação de direitos entre os seus apoiantes, que ele canaliza para um apelo à autossuficiência e à independência económica dos Estados Unidos.

A esperança e o medo nas mensagens das duas campanhas

O ambiente polarizado da eleição de 2024 ressaltou a poderosa influência da esperança e do medo na formação das atitudes dos eleitores. A campanha de Harris apela à esperança dos eleitores, propondo soluções que promovam um sentido de progresso coletivo e justiça social. A sua equipa está concentrada em inspirar otimismo para com o futuro da América e do mundo, apresentando as suas políticas como a chave para a construção de uma economia sustentável e inclusiva. Argumenta que, ao abordar questões como as alterações climáticas, os cuidados de saúde e a educação, os americanos podem garantir um futuro mais cintilante, centrando-se na unidade e num compromisso partilhado em que a América se una e não se divida.

Trump, pelo contrário, utiliza o medo como uma ferramenta convincente para mobilizar a sua base, destacando questões como a criminalidade, a instabilidade económica e as ameaças aos valores tradicionais. Apresenta-se a si próprio como um protetor contra estes medos, posicionando as suas políticas como salvos-condutos contra o que caracteriza como uma agenda liberal que poderia minar as tradições americanas. Esta estratégia procura mobilizar os eleitores que se sentem ameaçados pelas rápidas mudanças sociais e querem um regresso ao que consideram políticas estáveis e tradicionais, ou seja: a América do passado que já não o é há várias décadas.

A cobertura mediática reflete esta dicotomia, com os meios de comunicação social de tendência liberal a destacarem a visão positiva e cheia de esperança de Harris, enquanto os meios de comunicação social conservadores amplificam a mensagem de Trump de resiliência e autossuficiência nacional. As narrativas contrastantes de esperança e medo oferecem aos eleitores uma escolha não apenas entre dois candidatos, mas entre duas visões fundamentalmente diferentes para a América.

Os média na formação da narrativa das eleições de 2024

O papel dos meios de comunicação social nestas eleições tem sido sem precedentes, com uma cobertura que abrange as redes tradicionais, as redes sociais e as plataformas digitais. Os principais meios de comunicação social enquadraram frequentemente a campanha de Harris como um caminho para a estabilidade e a integridade democrática, contrastando com o enfoque de Trump no nacionalismo e na rejeição das instituições de elite. Por outro lado, os meios de comunicação conservadores destacam o historial de Trump em termos de crescimento económico antes da pandemia e criticam o que descrevem como o potencial exagero de Harris nas políticas sociais e económicas.

As redes sociais intensificaram o alcance da mensagem de cada campanha, permitindo uma publicidade direcionada que se liga, sem filtros, a nichos do público votante. Ambas as campanhas aproveitaram estas plataformas para transmitir a sua energia aos seus apoiantes e influenciar os eleitores indecisos, levando a interações altamente personalizadas que podem ter um impacto significativo na afluência às urnas. Por exemplo, Harris utilizou plataformas como o Instagram e o TikTok para envolver os eleitores mais jovens com mensagens baseadas em dados sobre as suas políticas, enquanto Trump continua a confiar em plataformas como o Facebook e o Twitter (assim como o seu Truth Social, dirigido pelo luso-americano, antigo congressista Devin Nunes) para galvanizar os seus apoiantes com apelos populistas, xenófobos e racistas.

Muitos observadores (incluindo este inábil aprendiz da vida) preocupam-se com o papel da desinformação, especialmente em questões tão sérias como a segurança das eleições e a confiança do público nos procedimentos de votação. Temas que Trump utiliza para aumentar o medo, e a descrença no processo democrático.  Os analistas argumentam que a cobertura mediática e a influência das redes sociais podem aprofundar a polarização política, tornando difícil a unificação da nação após as eleições.

O futuro da América: Escolher entre duas visões

Em última análise, a eleição presidencial de 2024 oferece aos americanos uma escolha entre dois trilhos muito diferentes para o futuro da nação. Uma presidência de Harris provavelmente daria continuidade a muitas das políticas da administração Biden, promovendo a sustentabilidade económica a longo prazo, políticas sociais progressistas e uma abordagem colaborativa às relações internacionais. A visão de Harris enfatiza a importância da igualdade, da inclusão e do governo como parceiro de todos os americanos, apelando a um desejo de unidade face a desafios sociais e económicos complexos.

Por outro lado, uma vitória de Trump assinalaria um regresso às políticas nacionalistas da sua anterior administração, com ênfase na autossuficiência, desregulamentação e políticas económicas protecionistas. A abordagem de Trump não tem uma política definida, mas sim uma amalgama de queixas e acusações, incluindo a prisão de membros da oposição. A visão de Trump apela aos eleitores que dão prioridade ao neoliberalismo desenfreado que acaba de ser extremamente prejudicial a muitos dos seus eleitores, à segurança nacional, baseada na xenofobia e no racismo, e a uma forte afirmação da soberania americana na cena mundial, desrespeitando todos os outros países e acordos internacionais.

A representação destas visões pelos meios de comunicação social molda não só a forma como os eleitores percecionam os candidatos, mas também a forma como entendem os desafios desta eleição. Este ano, a escolha vai para além da política e da preferência pessoal; é um referendo sobre os valores fundamentais do país e o tipo de liderança que os americanos acreditam que melhor os guiará nos desafios que se avizinham. Quer sejam motivadas pela esperança ou pelo medo, as escolhas dos americanos em 2024 definirão o rumo do país, afetando não só os próximos quatro anos, mas, sobretudo as gerações vindouras.  A democracia, com todas as suas imperfeições está em jogo nestas eleições.  

Mauricio De Jesus
Maurício de Jesus é o Diretor de Programação da Rádio Ilhéu, sediada na Ilha de São Jorge. É também autor da rubrica 'Cronicas da Ilha e de Um Ilhéu' que é emitida em rádios locais, regionais e da diáspora desde 2015.