No dia 19 de maio, uma das atividades do programa Azores Fringe, na ilha do Pico, foi uma conversa sobre o tema “Onde param as mulheres”. Num cenário idílico, por entre faias e limoeiros, na MiratecArts Galeria Costa, o grupo que integrava o Encontro Pedras Negras e alguns membros da comunidade refletiram sobre a produtividade e representação do sexo feminino, em especial na área da escrita.
Se é verdade que há mais mulheres do que homens em Portugal, é igualmente verdade que as publicações e participações em eventos como os encontros literários continuam a ser efetuadas maioritariamente pelo sexo masculino.
Os estudos sobre o assunto são escassos e não muito atuais, porém corroboram este facto quer na produtividade científica, quer na opinião em órgãos de comunicação social. Analisada uma amostra da Bibliografia Geral da Açorianidade, também aí as entradas atribuídas a homens eram três vezes mais do que as de mulheres.
Então porquê esta discrepância?
Segundo o INE, mais mulheres do que homens estão desempregadas, estando em minoria em quase todos os sectores de atividade profissional. As profissões que mais empregam mulheres são as relacionadas com trabalhos de limpeza em casas, hotéis e escritórios, seguidas de vendas em lojas. Do mesmo modo, apenas um terço dos líderes e dirigentes são mulheres.
Mesmo na área académica, se por um lado, a preferência por parte das mulheres pelas atividades docentes em detrimento da investigação e publicação pode ser um argumento a ter em conta, por outro, o principal fator apontado como inibidor da produtividade científica é a falta de apoio familiar/constrangimentos familiares.
Ora aqui os participantes na reflexão concordaram que continuam a existir muitas atividades vistas como responsabilidade feminina. Assim como continuam a existir, na sociedade, comportamentos e comentários repressivos quando a mulher prioriza algo diferente.
Apesar do caminho já percorrido em matéria de igualdade, têm as mulheres a mesma facilidade em abandonar as suas tarefas de cuidadoras para engrenar em projetos, muitas vezes não remunerados, na área da escrita? Para participar em encontros literários? Sentem-se livres de o fazer? Como se faz o caminho daqui para a frente e qual é o nosso papel na melhoria destas condições? Não para que haja tantas mulheres como homens a escrever ou a participar, mas para que fazê-lo seja acessível a todos, independentemente do género.
Algumas questões ficaram no ar, procurando deixar um olhar mais desperto. Na certeza de que há uma necessidade constante de pensar a nossa postura e a nossa influência no meio; desencorajar comportamentos inibidores da liberdade de cada um, seja homem ou mulher; fazer representar e reconhecer o mérito de todos os que o tenham, sejam homens ou mulheres; liderar os mais novos pelo exemplo, para o respeito, para a curiosidade e para a empatia.