SÃO JORGE

OPINIÃO | Calheta, a Capital dos Dissabores, por Sérgio Santos

Artigo de Opinião por: Sérgio Manuel Fontes dos Santos Estudante da Licenciatura em História na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
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A situação de decadência do Concelho da Calheta, mais precisamente da sua autarquia, é cada vez mais uma realidade. Atrevo-me a dizer que o próprio município se encontra decadente, tanto na sua “cabeça”, como nos seus “membros”. Aliás, podemos mesmo afirmar que, em consequência disso, a Calheta paralisou no tempo.

Assim sendo, eis alguns exemplos onde conseguimos observar o ponto a que a nossa Vila chegou. Vejamos o caso do Jardim! Este foi inaugurado a 15 de agosto de 1970, uma vez que havia a necessidade de concretizar um sonho na Calheta, que desde há muito os calhetenses desejavam. Desta forma, ambicionavam assim em ter o “seu jardim público”.  Está batizado em homenagem ao “Maestro Francisco Lacerda”, um dos melhores compositores e maestros internacionais, no entanto, aparentemente, desde que os independentistas regem os destinos da edilidade calhetense, o Jardim tem sido martirizado (figs. 1,2,3 e 4). Ainda não se conseguiu perceber tal ato de tremenda injustiça num local que devia ser harmonioso, como o centro do concelho merecia.

 Fig. 1Estado do Jardim  “Francisco Lacerda”, no ano de 2015

Fig.2 Em 2019 o Jardim “Francisco Lacerda” foi totalmente menosprezado pela Câmara Municipal das Calheta

Foto: António Gomes

Fig. 3  – Em 2022 o Jardim “Francisco de Lacerda” totalmente desprezado.

Foto: Fernando Ávila

Fig. 4 – Estado Atual do Jardim “ Francisco Lacerda” 

Foto: Maria Conceição

 Aos poucos o referido jardim foi perdendo algumas flores, seguindo-se as palmeiras. Não levou muito até que o varandim de proteção que se encontra na entrada superior (próximo da antiga loja do Sr. José Bernardo) fosse totalmente derrubado. Como se isto tudo não chegasse, lá se foram os bancos onde outrora os nossos avós e pais namoravam. Em pouco tempo, aquilo a que normalmente se designava de “Jardim”, virou um local onde apenas a relva crescia desesperadamente, faltando colocar apenas uns animais caprinos. Devo também alertar as senhoras e senhores que possuem animais, mais precisamente canídeos, que o miserável jardim não deve ser utilizado como WC dos seus amigos de quatro patas.

 No  concelho vizinho (na Vila das Velas), vemos o  maravilhoso Jardim da República, que está sempre com uma excelente apresentação. Como vêm não é necessário percorrer imensos quilómetros para se encontrar um jardim aprazível. Decidi começar pelo jardim, mas não foi por acaso, aliás, normalmente tudo tem uma razão de ser. Os jardins são comumente apelidados como o rosto dos municípios. Neste caso, nem precisamos de olhar para o resto para ver como anda a saúde do nosso concelho. Basta olharmos para o Jardim! Agora, provavelmente, aqueles que por lá passam apenas pensam: “Aquilo que foste, e aquilo que és”. 

Um outro exemplo é o Centro Cultural da Calheta. Aquando das campanhas eleitorais tudo são rosas, porém, só se descobrem os espinhos depois da tomada de posse dos vencedores das ditas eleições. Um centro cultural que se tornou num “mercadinho dos sabores” durante certos fins-de-semana. O eventual auditório parece ser uma obra sem fim à vista, e, portanto, neste sentido a cultura na Vila da Calheta é pouca ou nula. Como é que é possível não dispormos de um auditório, onde se poderiam realizar diversas sessões de cinema noturnas nos fins-de-semana? Mais uma vez, olhando para os nossos vizinhos velenses, vemos que não é necessário cruzar o canal para se encontrar um auditório. Não há realmente capacidade para idealizar alguma obra de raiz que seja proveitosa para a população do concelho. Com outros locais disponíveis, porém destinados ao abandono, não seria possível encontrar uma melhor solução para saborearem? 

Outro exemplo, prende-se com as destruições dos muros no centro da Vila no verão de 2022. Arrasaram com esses muros que detinham uma maior durabilidade e consistência, trocando-os por simples muros de blocos que em nada se comparam. Por falarmos em obras viárias, olhemos para a estrada que vai desde o campo de futebol da Calheta até ao Lar de Idosos. Neste troço ocorreu  uma obra em que o Município procedeu ao melhoramento da rede de abastecimento de água (no lugar da Fajã Grande), sendo que depois das devidas reparações, o mesmo encontra-se num estado vergonhoso. (figs. 5,6,7,8 e 9) Souberam realizar a obra, mas arranjar a referida estrada poderá ser uma tarefa que servirá de propaganda para novas eleições.

Fig. 5 –  Obras no troço do Campo de Futebol da Calheta até ao Lar de Idosos (Fajã Grande).

Foto: Município da Calheta;

Fig. 6 – Troço que liga o Campo de Futebol da Calheta ao Lar de Idosos da Calheta.

Foto: Milton Noronha;

Fig. 7 Estado vergonhoso do mesmo troço.

Foto: Milton Noronha;

Fig. 8 – Estrada ao lado do Campo de Futebol da Calheta. 

Foto: Milton Noronha;

Fig. 9 – Troço ao largo do Parque Infantil da Fajã Grande.

Foto: Milton Noronha;

Prezam a cultura e a história do nosso concelho, porém, se formos averiguar bem a situação, infelizmente, e com muita pena minha, a Vila da Calheta, ainda não possui um Arquivo Histórico. Perguntam os meus caros leitores, para que serve um Arquivo Histórico? Muito simples! Um arquivo serve para preservar e conservar as memórias de um povo, ou de uma determinada região. Aliás, tal como salienta o Historiador Peter Burke “a função do historiador é lembrar a sociedade daquilo que ela quer esquecer”. Deste modo, se não temos um arquivo como poderemos mais tarde fazer História da nossa terra, para que o passado nunca se apague? 

Em jeito de conclusão, devo lançar uma questão fundamental: que legado deixaremos às próximas gerações, se não conseguimos cuidar de um jardim, ou até modernizar o mesmo para que as pessoas se sintam bem na nossa Vila; se não temos um local de lazer, como por exemplo um auditório municipal, onde as pessoas podem disfrutar de um bom filme, ou até de um bom concerto de uma banda local ou até regional? Aliás, isso é que se chama de cultura – a promoção de eventos diversificados em prol dos cidadãos. Porém, a questão da obras que se começam, mas sem um fim à vista, são contas de outro rosário. 

Artigo de Opinião por: Sérgio Manuel Fontes dos Santos Estudante da Licenciatura em História na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

Mauricio De Jesus
Maurício de Jesus é o Diretor de Programação da Rádio Ilhéu, sediada na Ilha de São Jorge. É também autor da rubrica 'Cronicas da Ilha e de Um Ilhéu' que é emitida em rádios locais, regionais e da diáspora desde 2015.