Angra do Heroísmo é cidade património mundial da UNESCO desde 7 de dezembro de 1983, o que significa que este será o quadragésimo ano desde que recebeu essa distinção.
A efeméride está já a ser alvo de um suposto plano comemorativo, apesar de ainda nada de relevante ter sido feito ou apresentado, tanto quanto é possível apurar.
Já abordei este assunto algumas vezes, e certamente voltarei a ele muito mais vezes. A distinção de património mundial atribuída ao conjunto arquitetónico é especial e merece ser destacada sempre que possível. É uma honra que enaltece o valor da cidade, das suas gentes e do seu centenário papel histórico no coração do Atlântico.
É também o último reduto contra aqueles que querem branquear ou destruir essa herança, demolindo o passado para construir uma falsa ideia de progresso feita de betão.
Todas e todos sabemos qual a opinião de muitas e muitos decisores políticos. Por estas e estes, já não restaria uma pedra de cantaria que fosse. A baía de Angra estaria entupida com cruzeiros e lixo dos mesmos. No lugar dos conventos ficariam lojas de souvenirs e no lugar dos solares seriam construídas sucursais de fast-food. O Centro Histórico passaria a ser habitado apenas por alojamentos locais pertencentes a um primo ou a uma tia de algum amigo de família.
Em 2013, quando se celebraram os 30 anos da classificação já era Álamo de Meneses quem discursava em nome da Câmara, subestimando o seu património e a sua distinção. “Classificar não significa congelar”, disse então, perante a incrédula presidente da Comissão Nacional da UNESCO. E passou os dez anos seguintes a descongelar a gestão urbanística da cidade, inundando-a de caprichos e desrespeitos pelo seu passado e pela sua população.
Angra está em risco de perder a classificação que a distingue no panorama nacional.
E será um caminho para uma maior quebra da representatividade da ilha Terceira, à escala regional e não só, apagando os últimos vestígios históricos e arqueológicos da muito nobre e sempre constante Escala Universal do Mar Poente. Assisto a tudo isto sem conseguir manter o silêncio, mas também com uma desagradável surpresa, face à falta de apoio público de quem representa democraticamente o concelho.
Nas forças da direita permanece a visão imoral do capitalismo desregulado, onde a grande preocupação é o dinheiro, e só se fala ultimamente em IMI.
É triste contar o número de artigos de opinião sobre esse tema e comparar com o número sobre a defesa dos naufrágios da baía da cidade, ou sobre a proteção do património do antigo Convento da Esperança, ou até sobre a remodelação de um Plano Diretor Municipal verdadeiramente sustentável.
Quando Álamo Meneses anunciar um evento de celebração dos 40 anos da classificação, será certamente para estar rodeado pelas suas elites.
Cabe às pessoas exigir mais e melhor. Cabe-nos marcar presença, dar os parabéns à cidade e apresentar um verdadeiro manifesto a quem não defende verdadeiramente este património.
Ainda vamos a tempo.
Alexandra Manes, Dirigente do BE/Açores