Chego mareado no Porto de São Jorge, uma viagem de apenas duas horas, a herança do não mareio, eu não tenho na veia… Uma pisada de alivio e emoção no Porto onde o Casal João Teixeira da Cunha e Maria da Conceição, cheios de coragem embarcaram por um mundo novo, desconhecido, distante. Sim, o sobrenome Oliveira da Lagoa da Conceição, vem da coragem da mulher.
Ele da Freguesia de Santa Catarina da Calheta, ela que trouxe o nome Oliveira do Pai, Manoel Oliveira, da Vila Nova do Topo. O Topo foi nosso primeiro topo, a uma hora de Velas a maior Freguesia de São Jorge. Um encontro marcado com o Maurício, Radialista Topense, Radio Ilhéu.
Nosso primeiro destino foi o cais, a primeira descoberta é que os Oliveira eram baleeiros. Na Lagoa da Conceição, viraram pescadores como meu Bisavô Manoel Severino de Oliveira, Mestre admirado por todos. Não mãos de baleia, mas de caranhas, carapevas e tainhas…
Logo entrei na agua, a cor é azul claro profundo, temperatura de 22.3 graus. As tainhas, companheiras de toda uma existência, nos Açores e em Florianópolis, estavam ali em baixo rodeando o cais, me deram o ar, o mar de casa.
As ondas chegam com força no cais recém construído da Vila do Topo, fico imaginando como era antes desse cais. Uma baleeira se destaca entre os poucos barcos, agora usada para regatas entre Freguesias.
Uma pequena porta aberta abriga a única loja de artesanato do Topo, um pequeno quadro com uma baleeira, pintado por uma Enfermeira e pintora nas horas vagas, Marisa Brasil, e uma jogo de toalhas de crochê (eu acho) com as cores verde e amarelo, são as lembranças que vou levar pra casa, “made in Topo”.
No restaurante O Caseiro, único aberto dos únicos dois restaurantes da Freguesia que tem 410 habitantes, sim a imigração para A América, antes do Sul, agora do norte, e as poucas oportunidades fazem o Topo ficar “mais pequeno”…
Fui apresentado ao Jorge Oliveira, um simpático Jorgense, Topense, ficou feliz em saber que poderíamos ser parentes, ele disse que sua esposa também é Oliveira, as chances dobram. Uma comida deliciosa, nos surpreendeu, até o arroz doce e o bife de fígado acebolado, estava maravilhoso.
Descemos até o mirante com vista para o Ilhéu do Topo, uma pequena ilha privada, próximo a comunidade, onde são criadas vacas e ovelhas, as ovelhas saem de braço, as vacas saem nadando até o cais, sim no Topo as vacas são nadadoras. O belo farol estava em manutenção, ainda iluminava o mar atlântico e, as vacas…
A entrevista já começa com emoção, lembrar de como foi a decisão dos imigrantes aceitar tamanho desafio.
https://youtu.be/CGISNUrOu4U
Deixei minha havaiana no porto do Topo, alguém por lá continuará minha caminhada. Ralei o dedo em uma pedra, deixei meu sangue. Suor e lagrimas, também ficaram por lá. Trouxe uma pedra, colada pelo tempo, pelo mar e pela saudade de quem partiu.
Quando eu estava sozinho no cais, escutando o mar, me dei conta que a comunidade não é a mesma que deixara em 1747, a única lembrança que pude compartilhar com meus antepassados era…
O SOM DO MAR!!!
Marcos H. Oliveira P.