XTB

MAPUTO | Casos de cólera em Moçambique aumentam depois da dupla passagem do ciclone Freddy pelo país, numa altura em que existem perturbações de serviços críticos

366views

Uma semana após o ciclone Freddy ter atingindo Moçambique pela segunda vez, perturbando fortemente serviços críticos, a ameaça da cólera está a crescer rapidamente para as crianças e as suas famílias. Graças aos esforços de preparação do Governo, o número de mortos e de pessoas deslocadas pelo ciclone parece ter sido inferior ao de ciclones anteriores de força semelhante. Mas as inundações causadas pelo ciclone Freddy, agravadas pela interrupção dos serviços de abastecimento de água, saneamento e higiene, estão a provocar uma rápida aceleração do número de casos de cólera. Os casos relatados quase quadruplicaram – para quase 10.700 – desde o início de Fevereiro, tendo sido registados mais de 2300 casos só durante a última semana.

Um total de 36 distritos em oito províncias de Moçambique estão atualmente a sofrer surtos ativos de cólera, com Inhambane e Zambézia, as províncias afetadas pelo ciclone Freddy no seu primeiro e segundo impactos, sido os mais recentes a declarar surtos. Para além do risco de cólera, a UNICEF está muito preocupada com a forte probabilidade de um aumento de casos de outras doenças transmitidas pela água, como a diarreia e malária, doenças que se encontram entre as principais causas de mortalidade infantil. Com os serviços de saúde e nutrição gravemente afetados em muitos locais depois da passagem do ciclone, o risco de morte e doença para as crianças aumenta ainda mais.

“Enfrentamos agora um risco muito real de um surto de cólera de aceleração rápida em Moçambique. Trata-se de uma doença que é particularmente perigosa para as crianças pequenas, especialmente as que estão subnutridas,” disse Maria Luisa Fornara, Representante da UNICEF em Moçambique. “A UNICEF está a trabalhar em estreita colaboração com o Governo para restaurar urgentemente o acesso à saúde, água, higiene e serviços sanitários nas áreas atingidas pelo ciclone, mas é necessário apoio adicional para satisfazer as necessidades cada vez maiores das crianças e famílias.”

A UNICEF já está a trabalhar com a ONU e parceiros da sociedade civil, em apoio ao Governo, para responder à cólera e aos impactos do ciclone Freddy e das cheias. Já fornecemos mais de 1,2 USD milhões em artigos de saúde e água, higiene e saneamento em 2023, bem como apoio técnico e financeiro ao Governo e ONG parceiras. A UNICEF apoiou uma campanha de vacinação contra a cólera que alcançou 720.000 pessoas em Fevereiro e está a facilitar a aquisição de mais 1,36 milhões de vacinas, com entrega nas próximas semanas; e estamos a distribuir artigos críticos, incluindo pastilhas para purificação de água e material de tratamento e armazenamento de água, kits de higiene, desinfetante e sabão.

A UNICEF está ainda a apoiar os esforços para assegurar que os estudantes recuperem rapidamente o acesso à aprendizagem. Estimativas do Instituto Nacional de Gestão de Riscos de Catástrofes de Moçambique sugerem que mais de 1500 salas de aula foram destruídas pelo ciclone Freddy, causando perturbações na aprendizagem a mais de 134.000 estudantes. Nenhuma das 1025 salas de aula resistentes ao clima construídas desde 2019 com o apoio da UNICEF sofreu danos durante o Ciclone Freddy, demonstrando a importância de investir em infra-estruturas resistentes ao clima.

As necessidades de financiamento da UNICEF são superiores a 60 USD milhões para responder às necessidades das crianças e das famílias afetadas pelo ciclone Freddy, inundações e cólera, através do fornecimento de material, serviços e apoio técnico em matéria de água, saneamento e higiene; saúde; educação; nutrição; proteção infantil e social, com intervenções para a mudança de comportamento integradas em todos os sectores.

UNICEF/RÁDIOILHÉU

Mauricio De Jesus
Maurício de Jesus é o Diretor de Programação da Rádio Ilhéu, sediada na Ilha de São Jorge. É também autor da rubrica 'Cronicas da Ilha e de Um Ilhéu' que é emitida em rádios locais, regionais e da diáspora desde 2015.