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FAIAL | Encontrado fragmento de prato do séc. XV, o vestígio mais antigo alguma vez descoberto na ilha

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O diretor do Museu da Horta, José Luís Neto, revelou que foi encontrado um fragmento de um prato de cerâmica identificado como sendo “dos finais do séc. XV, início do séc. XVI”, o vestígio mais antigo alguma vez localizado na ilha do Faial.

Este foi um dos achados que resultaram das escavações arqueológicas que decorreram em julho deste ano, durante duas semanas, na ermida de Santa Bárbara, localizada na freguesia das Angústias, e que foram coordenadas no terreno pelo arqueólogo Luís Borges.

José Luís Neto falava numa apresentação pública no âmbito do evento “Faial: Descobrir a História, Pensar o Futuro”, organizado pela Associação de Turismo Sustentável do Faial em parceria com a Horta Histórica.

As escavações ocorreram no âmbito de um curso livre de arqueologia, promovido pelo Museu da Horta, em parceria com o Centro do Património Móvel Imaterial e Arqueológico, que teve início em abril deste ano.

“Aumentar o número de sítios da carta arqueológica e formar pessoas para que pudessem sinalizar sítios que desconhecemos na ilha” foram os principais objetivos do curso. “Até então só havia 13 sítios identificados numa ilha que os terá às centenas”, disse o diretor do museu, acrescentando que “agora temos 28 sítios registados”.

José Luís Neto salientou que houve a “preocupação de se ancorarem na sociedade civil [para este trabalho]”, sendo que, nesse sentido, convidaram o projeto Horta Histórica, do investigador Tiago Simões da Silva, para se juntar às escavações.

A área da ermida que foi alvo das escavações correspondeu a uma sondagem de 5,40m x 0,60m, tendo-se constatado que, sob o piso de madeira, havia parte de um piso de laje de alvenaria onde poderá existir “o túmulo do providenciador daquela construção sacra”.

Na área escavada foi encontrada “uma camada cheia de fragmentos de cerâmica e de fauna mamalógica (restos de consumo alimentar), entre os quais o fragmento de um prato do século XV ou XVI”, o que, segundo José Luís Neto, é uma “peça contemporânea dos primeiros povoadores” da ilha.

Foram, também, encontrados fragmentos de porcelana chinesa e dois fragmentos de malagueiras, loiças feitas em Lisboa, que “são peças do final do séc. XVI, início do séc. XVII”, bem como faianças portuguesas, dos meados do séc. XVII, inícios do séc. XVIII, incluindo o fragmento de uma pia de água benta, e ainda faianças do séc. XIX e uma moeda de 1966.

Estes achados, que decorreram de uma pequena sondagem, permitem antever descobertas maiores, caso seja possível dar continuidade às escavações arqueológicas.

Durante a apresentação, o investigador do Centro de Humanidades da Universidade Nova de Lisboa (CHAM) Tiago Simões da Silva referiu que “havia duas notas” sobre a ermida, nomeadamente que “foi fundada por volta de 1500, por Pedro Pasteleiro e sua esposa, Madalena da Rosa, um dos primeiros casais povoadores, de origem flamenga, e que a ermida caiu com um sismo em 1850, tendo sido depois reconstruída”.

Segundo Tiago Simões da Silva, o “padre Júlio da Rosa recolheu o testemunho de uma senhora que se lembrava de haver pedras tumulares” na ermida, e tinha também a informação de um investigador, que concluiu que a ermida seria anterior ao séc. XIX”, ou seja, a informação sobre a sua reconstrução após o sismo de 1850 não estaria correta.

Após várias investigações, pôde-se, efetivamente, concluir que a ermida “terá sido fundada nos finais do séc. XV, inícios do séc. XVI, no máximo”, tendo, ainda, sido encontrado um desenho da ermida da autoria de Samuel Longfellow, amigo dos Dabney, datado de 1843, ou seja, sete anos antes do sismo que, supostamente, a havia destruído.

Concluiu-se que o edifício da ermida que hoje existe é, pois, o resultado de cinco séculos de evolução, sendo que durante a apresentação foi lançado o repto para que se continuem as escavações e investigações no local.

Refira-se que foram, ainda, descobertas ruínas de uma casa nobre do século XVII ou XVIII num terreno adjacente à ermida, até agora completamente desconhecida, tendo sido apurado que se trata da Quinta de Santa Bárbara, que no início do século XIX pertencia à Família Brum.

ATSF/GAM/RÁDIOILHÉU

Mauricio De Jesus
Maurício de Jesus é o Diretor de Programação da Rádio Ilhéu, sediada na Ilha de São Jorge. É também autor da rubrica 'Cronicas da Ilha e de Um Ilhéu' que é emitida em rádios locais, regionais e da diáspora desde 2015.