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ATUALIDADE | Mensagem de Ano Novo de Sua Exa. O Presidente da Assembleia Legislativa dos Açores

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Açorianas e Açorianos,  

Neste virar de Ano, quero enviar, a cada um de vós, um abraço fraterno  e solidário, quer estejam aqui perto, ou espalhados pela nossa diáspora. 

Afirmamos muitas vezes que o tempo passa a correr. E hoje tenho a  sensação de que 2022 passou a alta velocidade. Mas não foi um ano  fácil! 

À crise pandémica que vinha detrás, juntámos; uma guerra, que nos  envergonha e empobrece; uma crise inflacionária, que fez disparar  preços e juros, bem como diminuir o nosso poder de compra; uma crise  sísmica, que afetou de forma particular os jorgenses e a ilha de São  Jorge; e, para finalizar, sucessivos estragos provocados pelo mau  tempo, que tem atingido as nossas ilhas e o continente português. 

Com a mudança de calendário, estes problemas não vão ficar no ano  velho.  

Infelizmente, alguns terão até efeitos e consequências maiores em 2023. 

O Ano Novo que aí vem traz muitas incertezas e dificuldades.  

Temos, por isso, de nos preparar o melhor possível, sem dramatismos,  mas com realismo.  

Começo por deixar um apelo, aos empresários e produtores açorianos,  para que não embarquem na vertigem do ciclo inflacionário, que tem  vindo a dificultar a vida de tantas famílias.  

Os sucessivos aumentos de bens e serviços, que não decorram de custos  reais, acabarão por impedir os nossos conterrâneos de ter uma vida  decente, e trazer dificuldades a toda a economia açoriana. 

Em 2023, as pessoas e as empresas devem estar no topo das nossas  prioridades.  

Os mais frágeis têm de contar com a solidariedade e apoio de todos os  quadrantes da sociedade, tal como as empresas devem ser preparadas  para resistir à crise.  

Para além destes problemas conjunturais, temos outros, mais  estruturais, que têm de merecer maior atenção e atuação. 

Permitam que destaque dois desses desafios: a demografia e os recursos  humanos. 

Os censos de 2021 mostraram aquilo que já sabíamos: estamos a perder  população.  

Temos territórios despovoados e população envelhecida. E este é,  provavelmente, o desafio maior que temos pela frente, porque sem  pessoas, tudo o resto não vale a pena. 

Os nossos jovens têm futuro nos Açores, e podem ser mais felizes na  sua terra.  

Basta terem oportunidades para se realizarem profissionalmente, e aqui  constituírem família, se isso for a sua opção.  

Dar-lhes essas condições tem de ser a nossa missão!  

Para além disso, temos de ter os braços abertos para acolher gente nova,  vinda de fora, que nos queira adotar como povo de acolhimento. Porque  cá dentro somos poucos, para desenvolver o futuro que queremos.  

A nossa realidade demográfica coloca-nos ainda outro desafio. 

O crescente envelhecimento obriga-nos a pensar em políticas e  respostas adequadas, para garantir uma vida digna aos nossos idosos, até ao fim dos seus dias.  

Numa sociedade que se quer moderna e humanista, a vida dos nossos  idosos importa.  

É por defender estes valores, que me indignam as notícias sobre o  aumento da violência contra os idosos.  

Não posso aceitar isso, e tudo farei para lutar contra essa realidade! 

Aos idosos que hoje me ouvem, envio daqui um abraço solidário,  especialmente aos que estão mais doentes, ou vivem em maior solidão. 

Outro desafio, essencial para o nosso futuro, é o dos recursos humanos.  

A nossa maior riqueza são as pessoas, mas precisamos qualificá-las e  formá-las.  

Ainda temos muito a fazer para melhorar os indicadores sociais, que  continuam a colocar-nos na cauda de Portugal, e às vezes até da Europa, 

como a taxa de abandono escolar, que no continente é de 5,3%, na  Madeira 10,6% e nos Açores 23,2%. 

Também a taxa de frequência do Ensino Superior é baixa entre nós,  quando comparada com a nacional.  

E se a estes dados associarmos uma taxa de pobreza alta, temos uma  tempestade quase perfeita. 

É possível alterar esta realidade?  

Claro que é! 

Estou absolutamente convencido que é na educação que reside a chave  para alterar estes indicadores.  

Bem sei que isso não se faz de um dia para o outro.  

Mas é preciso atuar, definir uma estratégia para mudar práticas e  mentalidades.  

Tenho defendido um verdadeiro pacto entre os diversos atores,  políticos e sociais, destas áreas. 

Se há matérias que merecem esta abordagem são a educação e a  qualificação dos nossos recursos humanos. São os verdadeiros alicerces  da sociedade que queremos desenvolver. 

Os recursos gastos na educação e na qualificação dos açorianos  são sempre um investimento. E são o melhor investimento!  

Nascer pobre não pode ser sinónimo de ser pobre a vida toda!  A educação tem de funcionar como o verdadeiro elevador social. 

Estou convicto que, ultrapassados estes entraves, teremos uma  Autonomia mais plena e cidadãos com maior capacidade de serem  agentes de um desenvolvimento sustentável. 

Estes problemas têm solução. Mas obrigam-nos a trabalhar com foco e  estratégia. 

Desde logo, com os fundos que chegarão da União Europeia, quer do  Plano de Recuperação e Resiliência, quer do novo quadro financeiro  plurianual.  

O objetivo principal tem de ser, a convergência social e económica,  da Região, com o País e com a União Europeia. 

Não podemos falhar na sua aplicação, senão teremos os mesmos  resultados. 

Sei que a complexidade do tempo que atravessamos dificulta as tarefas  urgentes que temos pela frente.  

Mas acredito na capacidade dos açorianos. 

Com políticas adequadas, com estabilidade, com diálogo e  compromisso, com um bom uso dos fundos comunitários, com a  resiliência que nos caracteriza, com convicto que vamos ultrapassar  com sucesso estes desafios. 

É com essa esperança que desejo a todos os açorianos:  um Feliz e Próspero Ano Novo! 

ALRAA/RÁDIOILHÉU

Mauricio De Jesus
Maurício de Jesus é o Diretor de Programação da Rádio Ilhéu, sediada na Ilha de São Jorge. É também autor da rubrica 'Cronicas da Ilha e de Um Ilhéu' que é emitida em rádios locais, regionais e da diáspora desde 2015.