ATUALIDADE | Bispo de Angra evoca vítimas de abusos sexuais e assume compromisso de as acompanhar
“É para muitos uma Quaresma em carne viva, mas para as vítimas já é uma Quaresma muito mais longa e ainda mais dolorosa”
D. Armando Esteves
Ecclesia – O bispo de Angra evocou na sua mensagem de Quaresma, divulgada ontem, as vítimas de abusos sexuais, sublinhando que “a estima e a disponibilidade para apoiar nunca prescrevem”.
“A estas vítimas que eram menores e indefesas peço que sejam capazes de atender o pedido de perdão que lhes faço em nome dos que nunca o quiseram fazer. Se alguém abusou, está a tempo de o assumir com dignidade aceitando as consequências”, escreve D. Armando Esteves.
O bispo de Angra explica que nesta Quaresma é “incontornável” a questão dos abusos de menores no âmbito da Igreja Católica em Portugal, afirmando que leigos, profissionais de várias áreas, “estão disponíveis para ouvir, ajudar a curar as feridas e a encaminhar quando necessário”.
“A Diocese garantirá que não faltarão meios humanos e financeiros para este esforço de acompanhamento. Os que preferiram permanecer em silêncio até agora, podem ainda fazê-lo, se o pretenderem, participando outros casos à Comissão Diocesana de Menores e Frágeis”, acrescenta, observando que, desta forma, “ajudarão a prevenir e banir radicalmente qualquer caso na Igreja e em toda a sociedade”, e apela para que “todos se mobilizem para garantir comunidades seguras”.
D. Armando Esteves assinala que este é “ainda o tempo da purificação no seio da Igreja” e qualquer desculpa ou queixume “não serve”, porque “apenas o perdão tem futuro”, partilhando também a “palavra e abraço fraterno” com os padres que “nada têm a ver com este submundo”.
É para muitos uma Quaresma em carne viva, mas para as vítimas já é uma Quaresma muito mais longa e ainda mais dolorosa”.
D. Armando Esteves
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal, designada pela CEP, validou 512 testemunhos, apontando a um número de 4815 vítimas, entre 1950 e 2022, segundo o relatório final que apresentou, a 13 de fevereiro, em Lisboa.
Na sua primeira mensagem de Quaresma como bispo de Angra, D. Armando Esteves começa por destacar que os ranchos de romeiros vão percorrer a Ilha de São Miguel e, “com menor expressão, também à volta das ilhas Terceira, S. Jorge e Graciosa”, sendo acolhidos em casas de particulares que também lhes colocam comida sobre a mesa.
“Recompõem forças e continuam a romaria. Os romeiros só veem o caminho, não se fixam nas dificuldades porque sabem que o Senhor que caminha no meio deles providenciará o essencial através das mãos caritativas de outros irmãos. Como recompensa, os donos da casa só esperam uma oração, como paga. Também eles sabem que a melhor recompensa virá das mãos de Deus, porque, nesta troca de dons, se fortalece o coração e a vida ressuscita”, escreve.
Neste sentido, recorda as pessoas que “sofrem por não terem casa ou a verem ameaçada”, as casas destruídas pelas bombas na guerra na Ucrânia, pelos terramotos na Turquia e Síria, mas também “os aumentos de juros e o agravamento das prestações que ameaçam a insolvência de muitas das famílias e até a eventualidade de terem de entregar as casas ao banco”.
O bispo de Angra informa que, consultados os Ouvidores, foi decidido destinar a Renúncia Quaresmal, através da Cáritas Internacional, às vítimas do terramoto na Síria, e apela às comunidades eclesiais – paroquiais e outras – que se organizem para “escutar a dor de quem passa por dificuldades comprovadas e não consegue pagar a casa e sustentar a família”, incentivando à solidariedade na diocese, onde a Cáritas Diocesana também está “disponível e empenhada”.
A Quaresma é um tempo litúrgico, de 40 dias (a contagem exclui os domingos), que teve início esta quarta-feira, com a celebração de imposição das Cinzas, marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência; serve de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário cristão (este ano a 9 de abril).
CB/OC/AE/RÁDIOILHÉU