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AÇORES | Declarações do Presidente do Conselho de Administração da SATA confirmam preocupações da CCIAH

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A Câmara do Comércio e Indústria de Angra do Heroísmo (CCIAH) vem manifestar a sua profunda preocupação com o conteúdo e o tom das declarações proferidas pelo Presidente do Conselho de Administração da SATA, na audição de 27 de junho, perante a Comissão de Economia da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores.

A intervenção em causa revelou, uma vez mais, uma abordagem ligeira e tecnicamente questionável, a começar pelas afirmações sobre os motores atualmente em operação na SATA Air Açores. A alegação de que “nem o fabricante sabia bem que peças seriam necessárias” denuncia um alarmante desconhecimento da complexidade e rigor com que a indústria aeronáutica opera. Os fabricantes de motores, como a Pratt & Whitney Canada e a CFM International, que equipam os aviões do Grupo SATA, disponibilizam documentação exaustiva, manuais de manutenção, programas de apoio logístico e peças com rastreabilidade total, exigindo, das operadoras, rigor técnico e planeamento antecipado – não improvisação.

A CCIAH considera igualmente descabida a declaração de que a SATA, durante anos, teria servido de “barriga de aluguer para o tecido económico e empresarial dos Açores”. Esta expressão, para além de infeliz na forma e na substância, desconsidera o papel estratégico de uma transportadora pública regional, cujo objetivo maior é precisamente o de assegurar conectividade, apoiar a economia local e garantir a mobilidade de cidadãos e bens num arquipélago com exigências logísticas específicas. A responsabilização de terceiros pela atuação passada da empresa não substitui o rigor presente que se espera de quem, voluntariamente, aceitou o desafio de liderar os destinos da companhia.

A CCIAH relembra que estas declarações vêm apenas confirmar as reservas que, oportunamente, expressou aquando da nomeação do atual Conselho de Administração. É esta mesma equipa que se encontra hoje responsável pela condução de um processo de privatização particularmente sensível, numa conjuntura em que a margem de manobra negocial é limitada e o prazo estabelecido pela Comissão Europeia se aproxima do fim. A ligeireza das posições agora assumidas em sede parlamentar contrasta com a exigência técnica e institucional que se impõe a quem está incumbido de garantir o futuro da SATA Internacional.

Mais preocupante ainda foi o teor da expressão usada pelo Presidente do Conselho de Administração da SATA ao afirmar que “quem não atrapalha, já dá uma ajuda”. Esta frase, para além de deselegante, denota uma conceção distorcida daquilo que é o papel da sociedade civil e das instituições democráticas. A empresa é pública, financiada com dinheiros públicos, e sujeita às obrigações de transparência que decorrem da lei e da sua natureza institucional. Ainda para mais, quando esta mesma administração se encontra em falta na publicação do Relatório e Contas referente a 2024 e nada se sabe sobre o desempenho da empresa no primeiro semestre de 2025.

A CCIAH rejeita liminarmente qualquer tentativa de condicionar o exercício do escrutínio legítimo por parte da sociedade civil e reafirma que se manterá vigilante, cumprindo o seu papel institucional com independência, exigência e sentido de responsabilidade. Nenhuma tentativa de desvalorização ou silenciamento inibirá esta Câmara do Comércio e Indústria de intervir sempre que estejam em causa os interesses estratégicos da Região Autónoma dos Açores.

CCIAH/RÁDIOILHÉU

Mauricio De Jesus
Maurício de Jesus é o Diretor de Programação da Rádio Ilhéu, sediada na Ilha de São Jorge. É também autor da rubrica 'Cronicas da Ilha e de Um Ilhéu' que é emitida em rádios locais, regionais e da diáspora desde 2015.