SÃO JORGE

SÃO JORGE | “Silêncio inaceitável e dúvidas graves na empreitada da Junta da Calheta no Trilho das Fontes”

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Passados mais de dois meses desde que foi apresentado um requerimento em sede da Assembleia de Freguesia da Calheta, continuam por esclarecer aspetos fundamentais relacionados com o ajuste direto da empreitada de “Limpeza, Reparação e Beneficiação do Trilho da Fonte (Biscoitos – Fajã Grande)”, adjudicada, em dezembro de 2023, por 30.856,80€ e executada no início de 2024.

O silêncio mantido pelo Presidente da Junta de Freguesia da Calheta, Sr. José Gabriel da Silva Matos, perante questões legítimas e documentadas, é profundamente preocupante e institucionalmente inaceitável. Na sessão da Assembleia de Freguesia, realizada a 6 de dezembro de 2024, o Sr. Presidente da Junta da Calheta não conseguiu prestar esclarecimentos objetivos, completos e satisfatórios sobre as questões colocadas de forma verbal. Desde então, tem mantido o silêncio, ignorando o pedido formal de informação e documentos essenciais para o cabal esclarecimento do processo.

O requerimento em causa – apresentado pelos membros do Partido Socialista na Junta de Freguesia da Calheta na reunião seguinte – expôs diversas contradições presentes no contrato da empreitada, tais como:

  • A autorização da abertura do procedimento adjudicação e realizadas no mesmo dia, sugerindo uma falta de separação temporal que compromete a clareza do processo;
  • A apresentação de uma proposta por parte do concorrente antes da data de abertura formal do procedimento;

Além disso, nesse mesmo requerimento foram pedidas as peças do procedimento, tais como o mapa de quantidades que permitiria aferir que trabalhos foram contratados, no entanto, nada disso foi, até à data, apresentado.

Mas, mais do que dúvidas legais e técnicas, o que está em causa é a falta de transparência em torno do destino de quase 31 mil euros de dinheiros públicos. Apesar do valor adjudicado corresponder a um contrato de três meses (cerca de 10 mil euros por mês), não é claro que tipo de trabalhos efetivamente foram realizados no terreno. Existem relatos que, alegadamente, apenas funcionários da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal intervieram no trilho, o que, a confirmar-se, levanta ainda mais dúvidas sobre a necessidade e a natureza do contrato celebrado.

Este clima de falta de transparência, ausência de respostas e resistência à prestação de contas por parte do Sr. Presidente da Junta contribui para um ambiente de especulação e desconfiança que em nada serve o interesse público.

Exercer um cargo público implica responsabilidade, dever de prestação de contas e respeito pelas instituições democráticas. Não pode ser confundido com uma gestão pessoal do poder, nem com a ideia de que quem governa o faz sem ter de explicar as suas decisões à população ou aos restantes órgãos autárquicos.

O Sr. Presidente da Junta de Freguesia da Calheta deve compreender que a confiança dos cidadãos se constrói com transparência e verdade – não com silêncio e fuga ao escrutínio.

Por isso, os Membros da Assembleia de Freguesia da Calheta eleitos pelo Partido Socialista reiteram a exigência de que sejam prestados, com urgência, todos os esclarecimentos e documentos solicitados, para que se possa apurar, de forma séria e factual, o que foi feito, quem o fez e quanto custou realmente a intervenção no Trilho das Fontes.

Importa deixar claro que o Partido Socialista da Calheta não se opõe à realização de intervenções de melhoria no Trilho das Fontes – bem pelo contrário. Reconhecemos o valor e a importância deste percurso para a população e para o turismo da freguesia. 

Aliás, é importante recordar que foi precisamente o anterior executivo da Junta de Freguesia, liderado pelo PS, que conduziu o processo de homologação e certificação oficial deste trilho, assumindo o seu compromisso com a valorização do património natural da Calheta. O que exigimos, hoje, é que qualquer intervenção seja feita com total transparência, respeito pelos procedimentos legais e rigor na aplicação dos recursos públicos.

A boa gestão dos dinheiros públicos não se avalia por palavras – mede-se por atos, documentos e responsabilidade. E é isso que continuaremos a exigir, por muito que continuem a tentar silenciar-nos.

PS/CALHETA/RÁDIOILHÉU

Mauricio De Jesus
Maurício de Jesus é o Diretor de Programação da Rádio Ilhéu, sediada na Ilha de São Jorge. É também autor da rubrica 'Cronicas da Ilha e de Um Ilhéu' que é emitida em rádios locais, regionais e da diáspora desde 2015.