Para muitos estudantes açorianos deslocados no continente, o Natal é mais do que uma época festiva. É uma oportunidade rara de regressar a casa, abraçar a família e reconectar-se com os amigos. No entanto, para um jovem estudante em Lisboa, como eu, este ano, esse regresso parece mais um sonho distante do que uma realidade alcançável.
A política de mobilidade aérea, outrora um alívio para nós, tornou-se um fardo. O teto máximo de 600 euros imposto no Subsídio Social de Mobilidade significa que, para além do custo já elevado da vida em Lisboa, somos agora obrigados a enfrentar a possibilidade de suportar despesas adicionais que excedem, muitas das vezes, a capacidade financeira dos nossos pais. Entre rendas exorbitantes, despesas universitárias e o orçamento apertado de um estudante, 900 euros por uma passagem de ida e volta é simplesmente incomportável. E, mesmo com o reembolso, o sistema exige que seja pago o valor total no momento da compra, algo que muitas famílias não conseguem suportar.
Este modelo de mobilidade, que deveria garantir igualdade de acesso às viagens, falha redondamente em momentos de maior procura, como o Natal. A falta de voos disponíveis agrava ainda mais a situação. Planeei com meses de antecedência, mas os lugares esgotaram-se rapidamente e, com isso, os preços dispararam. Este preço atualmente praticado não é comportável para a maioria das famílias Açorianas e os estudantes que se encontram deslocados não podem ser forçados a abdicar de passar o Natal com a sua família.
A situação não é apenas uma questão económica. É um ataque direto ao nosso direito à mobilidade e, em última análise, ao nosso direito de estar com as nossas famílias em momentos importantes. Somos estudantes que, mesmo a milhares de quilómetros de casa, carregamos os Açores connosco. Devemos ser vistos como um investimento no futuro do arquipélago, e não como um número estatístico a ser ignorado em nome de políticas mal concebidas.
Ficar longe de casa neste Natal é uma realidade que eu, e muitos outros estudantes açorianos, podemos ser forçados a aceitar. Mas esta situação não pode continuar a repetir-se. Pedimos apenas o que nos é de direito: a possibilidade de regressar ao nosso lar, ao nosso refúgio, sem que isso signifique sacrificar o pouco que temos. O espírito de Natal, afinal, começa com a esperança de que as coisas podem e devem melhorar. Esperemos que o próximo ano nos traga essa mudança tão necessária.
Afonso Montalto Cambim
Secretário Coordenador da JS Angra do Heroísmo e Membro do Secretariado Regional da JS Açores