OPINIÃO | O apego dos emigrantes à terra de origem: o exemplo do luso-americano John Guedes, por Daniel Bastos
O verão em Portugal é sinónimo de regresso a casa para milhares de emigrantes, que vindos de vários pontos do mundo, retornam à terra-mãe para gozar um merecido período de férias, e simultaneamente matar saudades da família e dos amigos.
As aldeias do interior enchem-se por esta altura de vida, de dinâmica no comércio, de ânimo nas festividades, de abraços reconfortantes e de casas que se abrem, quando ao longo de quase todo o ano se encontram fechadas, a aguardar a visita de muitos dos seus donos que demandam no estrangeiro melhores condições de vida. Um cenário de bem-estar que nesta época estival olvida momentaneamente o acentuado despovoamento e envelhecimento do interior do país.
De facto, muitos dos emigrantes, os mais genuínos embaixadores de Portugal nos quatro cantos do mundo, mantém um profundo apego aos seus torrões de origem, e nos verões, mas também ao longo de todos os anos, têm dado um contributo fundamental para a subsistência da cultura, tradições e dinâmicas das suas povoações.
Um desses exemplos paradigmáticos encontra-se plasmado na figura empreendedora e benemérita do emigrante luso-americano John Guedes. Natural de Vilas Boas, uma freguesia do concelho de Chaves, atualmente com pouco mais de 150 habitantes, o transmontano emigrou para a América no alvorecer da década de 1960, com 10 anos de idade. Numa época em que o fardo da pobreza, da interioridade e a estreiteza de horizontes na região trasmontana durante a ditadura compeliu uma forte vaga migratória para o centro da Europa e para a América.
Detentor de um percurso que computou nos anos 70 a formação académica em arquitetura no Norwalk State College, no estado americano do Connecticut, John Guedes fundou no ocaso dessa década a Primrose Companies. Uma empresa de arquitetura e construção, sediada em Bridgeport, a cidade mais populosa do Connecticut, especializada em projetos de construção de escritórios comerciais, multiresidenciais e médicos no Connecticut e em Nova Iorque.
O arquiteto luso-americano tem mantido um constate apego ao seu torrão natal através de um extraordinário sentimento benemérito. Na sua aldeia natal, onde regressa amiúde, entre outros exemplos notáveis de filantropia, pagou o terreno onde está o campo de futebol, financiou a abertura de um caminho e a construção de um parque de lazer, patrocina jornadas culturais e a festa anual da aldeia, como a deste ano, e doou cem mil euros para a construção da sede da associação cultural local.
O espírito generoso de John Guedes tem-se estendido também, ao longo dos últimos anos, ao Patronato de São José, em Vilar de Nantes, uma instituição flaviense de solidariedade que acolhe crianças do sexo feminino. E à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vidago, a quem já doou um monitor de sinais vitais e uma Ambulância de Socorro devidamente equipada, no valor de 60 mil euros. Assim como um donativo para equipar todo o Corpo de Bombeiros com farda número 2, a aquisição de uma viatura de comando e duas destinadas a transporte de doentes não urgentes.
Ainda no ano passado, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) que trouxe o Papa Francisco a Portugal, um acontecimento religioso e cultural que reuniu centenas de milhares de jovens de todo o mundo, durante cerca de uma semana, o emigrante benemérito luso-americano custeou toda a logística inerente à participação de mais de três dezenas de jovens transmontanos. Naturais das povoações de Vidago, Boticas, Vilela do Tâmega, Loivos, Vilarinho das Paranheiras e Adães, territórios onde são notórias as marcas do despovoamento e envelhecimento do interior do país, os jovens transmontanos usufruíram de uma experiência singular que lhes possibilitou conhecer outros jovens de diferentes continentes, graças ao espírito generoso e solidário do ilustre concidadão.
O apego do emigrante luso-americano John Guedes à sua terra-mãe, dá um genuíno sentido à conceção historiográfica de Francisco Ribeiro da Silva: “o amor à terra pode constituir uma boa razão para a História Local, porque o amor é mais perfeito e mais forte quando se apoia no conhecimento. Quem conhece a História da sua terra pode amá-la com mais consistência”.