OPINIÃO

OPINIÃO | “Quem nos acode?”, por Patrícia Miranda

Opinião da deputada do GPPS, Patrícia Miranda
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Infelizmente intempéries começam a ser recorrentes e as alterações climáticas a que estamos sujeitos começam a fazer sentir os seus efeitos.

Em São Miguel, a nossa geografia, principalmente nas freguesias, que se localizam na encosta das cumeeiras das Sete Cidades, onde predominam ribeiras fundas e com quilómetros consideráveis, requerem uma atenção especial ao seu estado.

O Partido Socialista tem vindo a alertar o Governo Regional para a necessidade dessa atenção, quer na limpeza das ribeiras e dos sumidouros, quer dos caminhos agrícolas, para que se possa evitar situações como as que têm ocorrido e relembro, Feteiras e Mosteiros em dezembro de 2021 e agora, em pleno mês de agosto, na costa norte do concelho de Ponta Delgada.

Faz hoje uma semana que a população dessa zona da ilha voltou a acordar em sobressalto.

Nessa madrugada, saí de casa e comecei a percorrer a estrada regional, logo aí os estragos já eram bem visíveis, assim como em alguns caminhos agrícolas.

Nas localidades mais afetadas o cenário era de profunda tristeza. Caminhos intransitáveis, famílias desalojadas, algumas moradias destruídas, os bens de uma vida perdidos no meio da lama, levados pela força da água. O coração apertado por sentir o desespero de quem sente que perdeu tudo, mas aliviada por saber, que no meio da desgraça, não houve perdas humanas.

Desde 2021 que há ribeiras, sumidouros e caminhos agrícolas, que por mais apelos e avisos, nunca mais foram limpos. Passados dois anos, 24 meses, o resultado deste desleixo é visível por todos, não sendo aceitável, que a inércia deste Governo coloque em risco as populações, os seus bens e a sua vida.

Também não é aceitável, que este governo, perante este cenário, continue a descartar a sua responsabilidade, responsabilizando e atribuindo culpas a quem não as tem.

Naquela madrugada, e dias seguintes, vi os nossos Presidentes de Junta em missão, junto do seu Povo, de mangas arregaçadas, olhos tristes, cansados, mas de coração aberto para os seus.

Vi os nossos Presidentes de Junta presentes, prontos a ajudar, mas sozinhos. Os nossos Presidentes de Junta estavam sozinhos no terreno, abandonados por aqueles que se dizem enaltecedores do poder local.

No passado, lembro-me do Presidente do Governo, Secretários e Presidentes de Câmara, no terreno, à chuva, de botas de cano, a apoiar, a estar presentes, a tomar decisões, a ajudar.

Naquela madrugada, e nos dias que se seguiram, o Povo daqueles lugares esteve praticamente sozinho, chegando ao cúmulo de o Secretário Regional do Ambiente e Alterações Climáticas prestar declarações sobre as ocorrências sem ir aos locais!

Agora que a legislatura está quase no fim, talvez não seja tão inusitado quanto isso, começar a ver alguns membros do Governo de Coligação de botas de cano, por aí, procurando emendar a mão, e tentando iludir as pessoas, depois de nunca terem estado presentes, disponíveis para ajudar no momento de aflição maior.

No sábado, 26 de agosto, ficamos todos a saber que o Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, também, exige ao “Governo de coligação, um reforço dos trabalhos de limpeza nas ribeiras do concelho, alertando que apenas por milagre é que o mau tempo não provocou vítimas mortais”. (cito o excerto da nota da LUSA).

A ver vamos se ouvem (melhor) Pedro Nascimento Cabral, porque no que diz respeito ao Povo daquelas freguesias do concelho de Ponta Delgada, até agora a resposta não chegou. Nem por milagre.

Quem nos acode?

Não sabemos.

PS/AÇORES/RÁDIOILHÉU

Mauricio De Jesus
Maurício de Jesus é o Diretor de Programação da Rádio Ilhéu, sediada na Ilha de São Jorge. É também autor da rubrica 'Cronicas da Ilha e de Um Ilhéu' que é emitida em rádios locais, regionais e da diáspora desde 2015.