SÃO JORGE

OPINIÃO | São Tomé, Lugar pequeno com Alma Grande: Vieira da Silva e Marco Pacheco lançam obras literárias, por Paulo Teixeira

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Quando alguém da nossa terra tem projeção no exterior, devemos, orgulhosamente, gritar aos quatros ventos que, das pequenas e muitas vezes esquecidas terreolas, também nascem pessoas que, tendo oportunidade, são capazes de fazer coisas interessantes como os nativos dos mais refinados lugares.

Começo pelo Marco Pacheco que concorreu e venceu o prémio literário Agustina Bessa Luís, com a obra “Guerra Prometida”. O Marco Pacheco nasceu e cresceu no lugarzinho de São Tomé, primeiro povoado da freguesia de Santo Antão, depois de atravessar a Serra do Topo.

Marco foi um miúdo doido por futebol e chegou aos juvenis do Sporting Clube de Portugal. Quantas vezes não foi castigado pelos pais por fugir para ir jogar futebol?!

Eu, que em determinada altura, também jogava futebol de noite e de dia, sozinho ou acompanhado, via no Marco a mesma paixão. Também atingi o ponto mais alto vestido de verde e branco, sendo vermelho, quando fui campeão regional de juniores pelo Lusitânia. Acredito que, tal como eu, também envergou essa camisola listada de verde com o maior orgulho….mas talvez por ter um coração vermelho se tenha ressentido do ambiente.

Aprendeu e tocou clarinete na filarmónica Recreio dos Lavradores.

Aos 16 anos os pais mudaram-se para a ilha de São Miguel e perdi o contato com o Marco. Recentemente, veio ao Festival de Julho apresentar a sua obra vencedora e podemos voltar a conversar. Seria talvez meia noite de sábado quando combinamos que no domingo almoçaria em minha casa…e não fosse o compromisso da Filarmónica Recreio dos Lavradores com a procissão de Nossa Senhora de Lourdes, penso que ainda estaríamos sentados à mesa, bebericando uma angelica acompanhada da inigualável espécie, tal foi o agrado deste reencontro. O Marco é um excelente conversador, com profundos conhecimentos, de tal forma que uma pessoa, a ouvi-lo, esquece-se do tempo.

O Marco hoje está em Lisboa, onde gere com sucesso uma equipa de mais de 20 elementos no incerto mundo da publicidade. Ouvir a entrevista que deu à nossa Rádio Ilhéu é saborear com ele o redescobrimento da sua terra.

Bom, o Marco não precisa que divulgue o seu sucesso, mas não posso deixar de lembrar que nasceu aqui, no lugar de São Tomé e conquistou o seu espaço no mundo. Só fico à espera que não volte a demorar 18 anos para cá regressar.

No mesmo pequeno lugarzinho de São Tomé nasceu, sensivelmente pela mesma altura, a autora de “Matilde” um romance onde a miscelânea de cenários e personagens, assenta em situações que, com mais ou menos tempero, aconteceram nos nossos espaços rurais e que serão semelhantes ao que acontecia por todas as nossas ilhas.

Vieira da Silva levanta o véu sobre o mundo rural de outra época, que a história raramente se lembra, para deixar uma obra de valor testemunhal para as gerações que não conheceram essa outra faceta da vida e que, à luz do dos dias de hoje, parece tão longe no tempo e até irreal em muitos casos.

Esta obra será apresentada na ilha de São Jorge no mês de agosto. É uma oportunidade de se divulgar a obra, mas ainda uma oportunidade maior de perceber melhor a vida dos nossos avós e das nossas comunidades rurais.

Esta menina, que nasceu em S. Tomé e também aprendeu e tocou clarinete na Filarmónica Recreio dos Lavradores, vive hoje na ilha de São Miguel, mas todos os anos volta à ilha de São Jorge e à fajã de São João para passar uns dias de relaxamento e, quem sabe, inspirar-se entre o azul do mar e o verde da agreste encosta, onde cada por do sol empresta às ilhas do Pico e Faial quadros de cores únicas.

Embora usando o pseudónimo de Luz Vieira da Silva, mais por manter o sossego do seu quotidiano do que por qualquer outra razão, tem aqui também a manifestação do nosso orgulho de jorgense.

Aos dois a expressão da minha admiração, da minha gratidão por elevarem o nome da nossa ilha, concelho, freguesia e lugar de São Tomé ao patamar onde poucos caminham, desejando que o sucesso comercial da obra seja condizente com a sua qualidade.

Antes de terminar uma palavrinha à Dianja que um dia tive oportunidade de apresentar a estreia do conjunto “Asas do Ilhéu”, “desejando que os nossos “ilhéus” nas “asas” do sucesso possam chegar até às estrelas”. Concluía a apresentação com “somos todos ilhéus, mas ilhéus com capacidade de sonhar e de fazer coisas que só as asas da nossa imaginação e criatividade dão alcance”. Dianja sonhou e ganhou asas para atingir o seu sucesso. Partiu de Santo Antão e aqui voltou para investir na sua terra, o que deveria merecer todo o nosso apoio para que se sinta feliz na sua terra natal, mas às vezes, vezes a mais, somos muito ingratos com os nossos e demasiado tolerantes com os forasteiros. Temos de dar o devido valor ao “made in azores”. Minha querida menina, continua, olha em frente e para cima com a determinação e força que te levou aos patamares onde estás, não te deixes abalar pela ingrata falta de reconhecimento de uns poucos.

Para terminar uma palavrinha ao filhote, Diogo Teixeira, também natural de Santo Antão, que se lançou na música com “Diamantes”, sob o nome artístico NTK, gerando muitas reações de surpresa sendo a maior da mãe que ao ver e ouvir o clip, com a lágrima no canto do olho expressou um admirável – “o meu filho sabe cantar”. Esperam-se novas surpresas com novos trabalhos.

Há que lutar pelos sonhos. E quem vai à luta deve merecer todo o apoio, porque já são vencedores.

Mauricio De Jesus
Maurício de Jesus é o Diretor de Programação da Rádio Ilhéu, sediada na Ilha de São Jorge. É também autor da rubrica 'Cronicas da Ilha e de Um Ilhéu' que é emitida em rádios locais, regionais e da diáspora desde 2015.