Projeto do tecnopolo do mar deve ser apresentado publicamente, defendem agentes da economia azul
O futuro polo tecnológico do mar, MARTEC, foi um dos temas em destaque durante a mesa-redonda sobre economia azul, uma iniciativa da Associação de Turismo Sustentável do Faial e da Horta Histórica.
O diretor regional de Políticas Marítimas referiu que esta infraestrutura “vai trazer conhecimento, e o primeiro grande objetivo será trabalhar diretamente com a Ciência”. “Precisamos de tecnologia e inovação para fiscalizar e monitorizar o espaço marítimo, e temos de criar condições para que a Ciência possa dar respostas”, afirmou Mário Rui Pinho.
O diretor do Okeanos, Gui Menezes, defendeu que “deve haver uma apresentação pública do projeto final do MARTEC” e lamentou que a Câmara de Comércio e Indústria da Horta “não tenha sido ouvida”, dado que o novo polo terá uma incubadora de empresas.
“Este projeto, a par do navio de investigação, é extremamente transformador para o que vai ser o futuro da investigação marinha e o futuro das novas áreas de desenvolvimento económico, e tem de envolver todos os parceiros”, sublinhou.
“Houve um esvaziamento da economia azul no Faial”
Durante a mesa-redonda, o presidente da Câmara de Comércio e Indústria da Horta criticou “o esvaziamento da economia azul” na ilha do Faial. Segundo Francisco Rosa, em causa estão acontecimentos como o encerramento da indústria conserveira na cidade da Horta, “que ocupava 158 pessoas”, e a transferência da rádio naval para a ilha de São Miguel, “que ainda hoje está por explicar”. “Acabamos por ter um problema tão grave como o problema da saída dos americanos da Terceira e não tivemos nenhum PREIT para minimizar os efeitos negativos”, disse.
O presidente da Câmara de Comércio e Indústria da Horta acusou os faialenses de serem “pouco associativos” e de “não fazerem lobby”. “Temos o potencial e não temos o proveito. Temos de ser resilientes em conjunto”, defendeu.
Na sua intervenção, Francisco Rosa afirmou que os portos são “um dinamizador da economia”, mas lamentou “a fraca informação” sobre as atividades económicas ligadas ao mar no Faial. “Temos dificuldade em perceber o peso que a economia azul representa para a economia do Faial porque há uma grande dificuldade em encontrar informação desagregada”, disse, acrescentando que “não conseguiu chegar a um valor sobre o potencial do porto da Horta”, apesar de “mais de um milhar de pessoas dependerem diretamente” deste porto.
“Parque de invernagem será mais-valia para porto da Horta”
O presidente do Conselho de Administração da Portos dos Açores referiu que o porto da Horta é “um bom exemplo de não atrito entre as várias atividades” da economia do mar, nomeadamente as marítimo-turísticas, a pesca, o segmento de cruzeiros, a náutica de recreio, o transporte de passageiros e carga e cabotagem insular.
“O porto funciona bem apesar do pouco espaço que temos para as várias atividades”, declarou, considerando, no entanto, que “há muito para investir no porto da Horta”. Neste sentido, referiu que ao nível de serviços técnicos, o porto tem “o terrapleno menor de toda a região, o que limita o tipo de operações”.
Também o presidente da Associação de Produtores de Espécies Demersais dos Açores (APEDA) apontou “a falta de condições no porto para a reparação de embarcações”, acrescentando que é necessário “a aquisição de um pórtico e de um espaço para parqueamento de embarcações”.
Jorge Gonçalves defendeu que a reparação naval é “extremamente importante” para a economia do Faial e dos Açores e lamentou que “não tenham sido criadas condições para despertar o desenvolvimento desta atividade” na ilha.
O presidente da Portos dos Açores, também disse que “abandonámos totalmente a reparação naval, e começa a ressurgir essa necessidade”, e apontou algumas causas. “Deixou de se investir na fabricação cá e na formação de quem reparava cá, e este segmento acabou por ficar moribundo”. E acrescentou: “Gostaríamos que no porto da Horta exista a capacidade, e está previsto no plano de investimentos, para um pórtico de 25 toneladas”, frisando que o parque de invernagem será “uma mais-valia”.
Rui Terra referiu, ainda, “o problema de subdimensionamento da marina”. “A marina como está já não dá resposta”, afirmou e admitiu que “gerir uma marina onde os tarifários têm de ser de serviço público, e não são para fazer lucro, não é sustentável”. “Se a marina passar a ser utilizada como porta de entrada e saída, passamos a fazer negócio com os parques de reparação e invernagem e a trazer uma componente de sustentabilidade à marina”, disse.
Cruzeiros deixam 8 milhões de euros nos portos dos Açores
Questionado sobre “as áreas de grande valor ao nível portuário”, o presidente da Portos dos Açores destacou o segmento de cruzeiros. “Em termos diretos, os cruzeiros deixam 8 milhões de euros [por ano] nos portos dos Açores, e esse valor é muito importante já que gerimos marinas com preços que não existem em mais lado nenhum em Portugal”, frisou.
Segundo Rui Terra, “tem havido um marketing muito direcionado para a área dos destinos de aventura” com o objetivo de os passageiros dos cruzeiros que atracam “fazerem trilhos e contactarem com as marítimo-turísticas”. Estas operações de marketing, segundo Rui Terra, têm tido como objetivo “atrair cruzeiros aos Açores durante o inverno e fora da época alta”.
GM/ATSF/RÁDIOILHÉU