ATUALIDADE | Serrão Santos: Faial está num momento único no contexto das oportunidades do crescimento azul
A ilha do Faial está “num momento único da sua história no contexto das oportunidades do crescimento azul”, afirmou Ricardo Serrão Santos, na palestra “Faial na estratégia do Atlântico”, evento que inaugurou a segunda edição do seminário “Faial: Descobrir a História, Pensar o Futuro”.
O investigador e antigo Ministro do Mar apontou, nesse sentido, o campus da Universidade dos Açores, sediado na Horta, a projeção de um novo navio de investigação, o projeto do parque tecnológico, MarTech, e a Escola do Mar dos Açores.
“Haja visão e capacidade. E haja, sobretudo, cooperação”, disse, referindo que “há que reforçar os elos com os hubs azuis que se estão a criar no continente português”.
Serrão Santos lembrou que os investigadores do Departamento de Oceanografia e Pescas “nunca perderam a excelência na ciência que produzem”, mas criticou “a política de isolamento” deste departamento da UAç.
“O progresso só se faz em cooperação, na externalização. O futuro está em quebrar o isolamento e partir para parcerias formais”, defendeu.
Para Serrão Santos, o conhecimento científico, a sustentabilidade ambiental e a cooperação são “factores-chaves para reconstrução das nossas economias saudáveis e para o crescimento azul”, defendendo que “as nações do Atlântico devem liderar o esforço global” e que, nesse contexto, “as regiões costeiras marítimas e as ilhas têm um papel crucial a desempenhar”.
Turismo representa 75% da Economia do Mar
Durante a palestra, o investigador disse que, em Portugal, “a Economia do Mar está representada em 75% pelo turismo”, considerando, por isso, necessário “diminuir esse impacto, sem diminuir a importância do turismo”, através da aposta noutras atividades económicas ligadas ao mar.
“A investigação científica deve ser entendida como uma atividade socioeconómica, que tem tido grande projeção nos Açores desde a fundação da Universidade e tem tido projeção particular na ilha do Faial”, disse.
Além da investigação de carácter científico,frisou, ainda, “um forte interesse e o investimento” em parcerias no âmbito de programas que envolvem desenvolvimentos tecnológicos derivado das engenharias, como a robótica submarina, a biotelemetria e a acústica submarina.
Dabney enviaram 47 espécies de peixes para Museu de Zoologia Comparada da Universidade de Harvard
Durante a palestra, Serrão Santos abordou a história do Faial, realçando, no âmbito da investigação científica nos Açores, “o papel da família Dabney”, que viveu na ilha desde os inícios do séc. XIX.
“Existe correspondência entre a família Dabney e vários naturalistas e geólogos, entre os quais o grande naturalista Louis Agassiz”, fundador do Museu de Zoologia Comparada da Universidade de Harvard, em Boston.
Segundo Serrão Santos, a primeira correspondência entre os Dabney e Agassiz “ocorre quatro anos antes da inauguração” do museu, sendo que existe uma carta de Agassiz a Charles Dabney, com data de 3 de março de 1847, a solicitar o envio de peixes do Faial.
“Os Dabney enviaram ao Museu de Zoologia Comparada da Universidade de Harvard 47 espécies de peixes que ainda hoje se podem observar”, frisou.
Durante a incursão pela história do Faial, o investigador afirmou que “os Açores foram palco do dealbar da oceanografia do século XIX”, destacando, neste sentido, as expedições do Príncipe I Alberto do Mónaco, que “podem ser consideradas fundadoras da biologia das profundezas oceânicas, e que se prolongaram durante as duas primeiras décadas do século XX”.
“Foi uma época de ouro das ciências do mar e da atmosfera”, afirmou, lembrando, também, que foi na ilha do Faial que se estabeleceu “o importante observatório meteorológico”.
Serrão Santos referiu, ainda, a importância dos cabos submarinos para a ilha do Faial, que se constituem como “a primeira atividade tecnológica e da economia do mar a utilizar e a impactar o mar profundo”.
“É uma tecnologia que ainda não foi superada”, disse, lembrando que “mais de 90% das comunicações de dados, voz e imagem correm pelos oceanos através dos cabos submarinos, agora de fibra óptica”.
A palestra “Faial na estratégia do Atlântico” aconteceu no âmbito do evento “Faial: Descobrir a História, Pensar o Futuro”, que decorre até 3 de novembro.
As atividades continuam esta quinta-feira, às 18h, na Casa Manuel de Arriaga, com a apresentação e debate “Que futuro queremos para o Museu da Horta?”.
ATSA/RÁDIOILHÉU