Emergíamos da estação do Metro na rua 42, a do sexo pago antes do Giuliani ser mayor de Nova Iorque, e o meu colega Marques dava graças por estar vivo e anunciava que jamais andaria naquele caldinho de traficantes, mafiosos e gente boa.
Num desses dias, chegámos ao hotel e o Marques viu na TV que haviam morrido três pessoas num tiroteio numa estação de metro da cidade que Giuliani, o sebento a quem, mais tarde, haveria de escorrer creme pela cara abaixo numa patética conferência de imprensa em defesa de Donald Trump.
Limitei-me a responder: não era a nossa hora!
Lembrei-me disto a propósito das cartomantes, dos bruxos e dos adivinhos que enxameiam as redes sociais com projeções patetas sobre o que pode vir a acontecer em São Jorge. É estranho olhar a ilha do alto do Posto Santo, pensar no que lhe vai nas entranhas, e não poder adivinhar, prever, anunciar. Mas as redes sabem tudo! É assim o mundo e, sem deixar de tomar os cuidados devidos, há que, serenamente, confiar no destino. Ainda que não seja fácil para quem lá vive.
Na TV, um lavrador cansado anunciava que não abandonaria as suas vacas a menos que a protecção civil o ordenasse. É estranho porque, no dia anterior, na rádio pública, uns fofinhos, daqueles corajosos que costumam dar entrevistas de cara tapada, se tinham manifestado muito preocupados com o abandono de animais em São Jorge.
Tamanho desconhecimento da realidade comoveria se não fosse irritante. Nenhum lavrador abandona os seus animais. Porque, ao contrário do que pensam os mocinhos da cidade, nos Açores, um lavrador vive em comunhão com a terra e dela tira apenas o que precisa. Não há mestrado, nem tofu, que permita perceber isto. É pena!
DIÁRIOINSULAR/RÁDIOILHÉU