
O Bloco de Esquerda lamenta as infelizes declarações de Carlos César no encerramento do encontro da Juventude Socialista, em que afirmou que os Açores “são menos pobres do que se diz e as famílias têm mais rendimentos do que as estatísticas aparentam”.
As palavras de Carlos César não passam de uma tentativa de encobrimento grosseiro da realidade e do desastre que tem sido a política de distribuição de rendimentos da governação do PS que tem acentuado a pobreza na região. Recorde-se que a taxa de pessoas em risco de pobreza nos Açores é a maior do país – 31,8%, o que corresponde a 80 mil açorianos e açorianas –, enquanto a taxa nacional é de 17,3% da população.
Ao mesmo tempo, Carlos César quer fazer esquecer que é nos Açores que a desigualdade da distribuição da riqueza é também a maior do país.
O presidente do PS e ex-presidente do Governo Regional dos Açores diz que há muito rendimento não declarado nos Açores. Mas os responsáveis pela economia paralela não são os trabalhadores por conta de outrem, que para alimentar as suas famílias são obrigados a trabalhar por baixos salários, muitas vezes abaixo do salário mínimo, com vínculos precários e à hora, e onde o salário médio é quase 100 euros abaixo do nacional.
O que Carlos César quer esconder, mas tem de explicar, é como é que entre 2011 e 2013, anos de quebras muito significativas do PIB a coleta média do IRC foi de 40,6 milhões de euros por ano, e entre 2017 e 2019, com crescimentos do PIB significativos, a coleta média foi de 43,3 milhões de euros por ano.
O aumento de apenas 2,7 milhões de coleta anual de IRC, em conjunturas económicas tão diferentes, é um valor insignificante. Para onde foram os lucros das empresas nos últimos anos? Era isso que Carlos César deveria explicar.
Em 2008, Carlos César fez uma campanha eleitoral assente na ideia de que a crise não chegava aos Açores, devido às políticas socialistas. Mas depois, foi o que se viu: desemprego, dor e sofrimento em milhares de lares açorianos. Portanto, a sua credibilidade nesta matéria é muito fraca.
Encobrir a realidade é mau presságio para o que se exige neste momento que são novas políticas públicas de combate á crise de forma séria e que não deixem ninguém para trás.
BE/AÇORES/RÁDIOILHÉU